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Argentina quer condenar civis cúmplices da ditadura

País recorda hoje 35 anos do início do regime militar, acusado de matar e torturar 30 mil pessoas

Por AE
Atualização:

Os argentinos vão recordar com um feriado hoje os 35 anos do golpe militar que em 1976 deu início a uma ditadura de sete anos que torturou e assassinou mais de 30 mil civis. Nos últimos anos, dezenas de militares sentaram no banco dos réus e foram condenados pelas violações dos direitos humanos durante o regime.

 

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No entanto, o governo da presidente Cristina Kirchner agora pede à Justiça que também julgue os civis que participaram da ditadura. "Não é suficiente condenar os militares. É preciso também condenar os civis que foram cúmplices", afirmou o chanceler Héctor Timerman. "É preciso condenar os civis que tiraram proveito do terrorismo de Estado em benefício próprio."Alguns civis já estão sendo julgados, entre eles, José Martínez de Hoz, ex-ministro da Economia do ex-ditador e general Jorge Rafael Videla. Segundo Vicente Muleiro, autor do recém-lançado 1976 - O Golpe Civil, Martínez de Hoz foi "o chefe civil do golpe".

 

Um dos civis detidos, que aguardam julgamento, é o jurista Jaime Lamond Smart, secretário de governo do general Ibérico Saint-Jean, interventor da ditadura na província de Buenos Aires. No entanto, Timerman direcionou suas críticas aos jornais "La Nación" e "Clarín", os quais acusa de terem colaborado com o regime militar. "Essas pessoas não podem estar livres, caminhando pelas ruas", disse.

 

O regime implantou a ditadura mais cruel da história da América do Sul. Além dos mortos, milhares de outras pessoas foram torturadas, enquanto que mais de 300 mil partiram em exílio. Em 2006 o então presidente Néstor Kirchner decretou a data feriado nacional, com o argumento de "recordar" as vítimas do Terrorismo de Estado.

 

Segundo Timerman, os diretores de ambos jornais estiveram por trás da detenção e tortura de Lidia Papaleo de Graiver, viúva de David Graiver, dono da "Papel Prensa", a única fábrica de papel de jornal do país. Timerman alega que a viúva de Graiver foi forçada a repassar a empresa aos dois maiores jornais do país em 1976. No entanto, parentes de Graiver, também torturados pelos militares, afirmam que o governo está tergiversando a realidade, já que a venda ocorreu em novembro de 1976, enquanto que a tortura ocorreu em março de 1977.

 

Condenados 

 

Segundo a Unidade Fiscal de Coordenação e Acompanhamento por Violações aos Direitos Humanos da Promotoria Geral da República, em 2010 foram condenados 110 ex-integrantes da ditadura (principalmente militares e policiais) por crimes cometidos durante os sete anos de regime militar. Outros 112 militares teriam julgamento oral e público ao longo deste ano, segundo as estimativas do organismo.

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Na fila de espera para futuros julgamentos existem atualmente 820 militares que estão sendo processados. As Mães e Avós da Praça de Mayo, entre outras organizações de defesa dos Direitos Humanos, realizarão ao longo do dia marchas de protesto para exigir a detenção e julgamento de ex-integrantes da ditadura que ainda estão em liberdade. A presidente Cristina Kirchner não participará dos eventos programados para este feriado. No entanto, em uma mensagem gravada previamente, recordará hoje à noite em rede nacional de TV os 35 anos do golpe.

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