Argentina tenta recuperar governabilidade

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Por Agencia Estado
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As medidas adotadas pela Argentina, como o calote da dívida externa e o uso do dinheiro para projetos sociais que ampliem o emprego, não têm consistência macroeconômica para solucionar a crise que o país atravessa. Segundo os economistas ouvidos pela reportagem, elas são transitórias e têm o objetivo de tentar recuperar a governabilidade até que seja eleito o novo presidente. A opinião consensual é de que, na prática, a criação de uma terceira moeda é um passo para a desvalorização, apesar de o governo não ter declarado que assim o fará. "As medidas vão colocar o país na rota do desastre. As coisas vão piorar muito para os argentinos antes de melhorarem", diz o ex-ministro da Fazenda e sócio da Tendências, Maílson da Nóbrega. Ele pondera que ninguém esperava que a Argentina pagasse a dívida, mas que negociasse os débitos. Com a decisão de suspender unilateralmente os pagamentos, Maílson acredita que estão liquidadas as chances de que o país tenha acesso ao mercado internacional e possa voltar a crescer. Isso porque, mesmo que o governo tenha declarado a intenção de gastar os recursos em programas sociais para criar empregos, ele precisá ter fontes de financiamento. "A Argentina não irá obter financiamento com a moratória declarada." Sem condições de acesso a novos créditos e sem poder emitir moeda para financiar esses projetos sociais, a saída é a desvalorização, prevê o ex-ministro da Fazenda. Maílson, assim como o economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Heron do Carmo, consideram que ao criar uma nova moeda foi dado um passo para a desvalorização. "Eles já desvalorizaram o peso, a questão agora é só de sutileza política, porque o povo não aceita isso", diz Heron. O economista da Fipe compara a nova moeda a Unidade de Referência de Valor (URV) usada pelo Brasil na transição do cruzeiro para real. Heron e o consultor Emilio Garofalo Filho, ex-diretor da área externa do Banco Central (BC), dizem que a moeda boa terá a preferência da população e naturalmente expulsará a má. Garofalo Filho acrescenta que nenhum país tem duas moedas. Para ele, o mais provável é que haja uma transferência gradual de salários e dívidas para essa nova moeda, que deve flutuar. "A nova moeda deve ser o caminho para a adoção do câmbio flutuante", afirma. Populismo - O economista da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Antônio Corrêa de Lacerda, diz que parte das medidas anunciadas tem caráter populista. Elas tentam reverter a situação de caos social em que o país se encontra. Ele explica que para tirar a Argentina da crise a saída seria desvalorizar a moeda para tornar a economia mais competitiva. Com isso, criam-se as condições para que a Argentina volte a crescer. Na sua opinião, o objetivo do governo é ganhar tempo para completar a transição até que o próximo presidente tome posse em abril. Leia o especial

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