Argentinos bloqueiam todas as pontes com o Uruguai

Manifestantes protestam contra instalação de fábrica de celulose

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Por Ariel Palacios e BUENOS AIRES
Atualização:

Manifestantes argentinos da área da fronteira bloquearam ontem com piquetes as três pontes que ligam a Argentina com o Uruguai. A medida foi realizada em protesto contra o início do funcionamento, na quinta-feira à noite, da fábrica de celulose da empresa finlandesa Botnia, instalada no município uruguaio de Fray Bentos, sobre o rio Uruguai, que divide os dois países. O governo do presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, colocou um forte contingente policial nas redondezas da empresa para protegê-la de eventuais ataques e sabotagens por parte de manifestantes argentinos - especialmente dos habitantes da cidade argentina de Gualeguaychú, localizada na outra margem do rio, à frente de Fray Bentos. Esses manifestantes pedem o desmantelamento imediato da fábrica, que, de acordo com eles, provocará um "apocalipse" ambiental e econômico na região. A ponte que liga Gualeguaychú a Fray Bentos está bloqueada por piquetes feitos pelos argentinos há um ano. Ontem foi a vez da ponte que liga a cidade argentina de Concordia com a uruguaia de Salto ficar bloqueada "por tempo indeterminado". Outra ponte, entre Colón, na Argentina, e Paysandú, no Uruguai, foi o alvo ontem de piquetes "temporários". O vice-presidente uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, afirmou que "não existe estado de guerra". "No entanto, estamos tomando medidas para que não ocorram desgraças e evitar circunstâncias dolorosas." O governo do Uruguai também fechou no sábado o lado uruguaio da ponte que liga Fray Bentos a Gualeguaychú para evitar a entrada de manifestantes argentinos e, assim, desestimular eventuais ataques ou sabotagens contra a fábrica finlandesa de celulose. As relações entre Uruguai e Argentina estão em elevado estado de tensão há dois anos por causa da fábrica da Botnia. Entretanto, o desentendimento agravou-se na sexta-feira, quando Tabaré Vázquez emitiu a autorização para o funcionamento da fábrica. O governo do presidente argentino Néstor Kirchner - que está em sintonia intensa com os manifestantes - acusou ontem Vázquez de "debilitar as relações bilaterais" e de não querer negociar a respeito do funcionamento da fábrica. O chanceler uruguaio Reinaldo Gargano retrucou, afirmando que o governo Vázquez está "disposto a retomar o diálogo", mas que não negociará enquanto os piquetes continuarem. Segundo ele, a Argentina, ao permitir esse tipo de manifestação, viola o princípio do Mercosul de livre circulação de mercadorias e pessoas. Na sexta-feira, durante a Cúpula Ibero-americana realizada em Santiago, no Chile, Néstor Kirchner e Tabaré Vazquez trocaram duras críticas, colocando um fim n as negociações apadrinhadas pelo governo da Espanha. Os analistas afirmam que o conflito tende a agravar-se. A perspectiva, segundo eles, é que a "Guerra da Celulose", como ficou conhecido o tema, "envenenará" as relações entre os dois países por vários anos. INVESTIMENTO O investimento para a fábrica da Botnia é de US$ 1,2 bilhão, o equivalente a 9% do PIB uruguaio. Esse é o maior investimento da história do país, além de ser o primeiro passo no ambicioso plano do governo do presidente Vásquez de transformar o Uruguai em uma potência da celulose.

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