O aposentado Guillermo Balma chegou cinco horas antes ao ato que pediu ontem em Buenos Aires o esclarecimento do caso do promotor Alberto Nisman, encontrado morto em 18 de janeiro de 2015. Ao longo de um ano, o ex-operário de 72 anos viu minguar a mobilização sobre o tema, algo que exceções como ele e analistas atribuem à falta de fé na investigação e à “indignação seletiva” da sociedade.
Na manifestação que começou às 19 horas e durou 50 minutos, centenas de velas foram usadas em homenagem ao promotor que investigou por 10 anos o atentado contra a Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia), em 1994.
“Os argentinos têm memória curta. Têm tradição de protestar, mas (só) quando seu bolso é o alvo”, reclamou Balma. Ele usava uma camiseta preta estampada com a foto do promotor e carregava um cartaz com a frase “esteja eu ou não, as provas estão”, dita por Nisman em sua última entrevista.
O comparecimento modesto à Praça Alemanha, um quarteirão que foi ocupado pela metade, se explica também pelas férias, que esvaziaram as metrópoles. A Delegação de Associações Israelitas Argentina (Daia) previu atos em mais três províncias.
Na opinião da ensaísta Beatriz Sarlo, a diluição do interesse deve-se à falta de organizações civis fortes e à lenta investigação. “Meios de comunicação muitas vezes vão atrás da novidade e são incapazes de sustentar uma notícia, ainda que seja de maior interesse público”, afirmou ao jornal La Nación.
Nisman foi encontrado morto quatro dias após acusar a ex-presidente Cristina Kirchner de proteger iranianos envolvidos no ataque segundo a Justiça local. Em 2013, o kirchnerismo assinou com o Irã um pacto para que os acusados fossem ouvidos em Teerã.
Nisman dizia que o acordo previa impunidade em troca de uma transação comercial. Ele morreu na véspera de detalhar ao Congresso sua denúncia. A versão oficial da morte indicava suicídio, mas foi contestada por peritos da família de Nisman.
Um mês após a morte, pelo menos 200 mil manifestantes tomaram a Praça de Maio e as ruas ao redor para saber se ele havia se matado ou sido assassinado. “Depois da comoção inicial e da numerosa marcha de 18 de fevereiro, é verdade que não houve manifestações populares massivas. Mas o interesse cidadão para saber o que aconteceu está intacto”, afirmou ao Estado o presidente da Amia, Ralph Thomas Saieg.