Argentinos fazem jornada contra a violência

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Por Agencia Estado
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Agitando bandeiras, atirando papéis pelas janelas e unidos em um aplauso ensurdecedor, milhares de argentinos realizaram nesta sexta-feira uma jornada pela paz em um país acossado por uma onda de delitos que parece não ter limites. Nas escolas de cada província, as crianças entoaram o hino nacional e leram poesias sobre a paz, enquanto as igrejas de Buenos Aires faziam repicar com força os sinos logo que o relógio marcou 14h00. A Jornada Nacional pela Paz, convocada pela organização não-governamental (ONG) Rede Solidária, reuniu milhares de pessoas que se uniram ao som de buzinas, aplausos e orações para pedir o fim da violência. Enquanto as ruas do distrito financeiro de Buenos Aires se cobriam de branco por causa dos papéis lançados dos edifícios de escritórios, os operadores da Bolsa de Comércio portenha interromperam seu trabalho com um aplauso ao mesmo tempo que vários quartéis do Corpo de Bombeiros e da Prefeitura - a polícia portuária - faziam soar suas sirenes. Também se escutaram algumas caçarolas nos balcões dos bairros da periferia e nos cruzamentos de várias esquinas. "Não sabíamos que era possível unir desse modo a Argentina", disse emocionado, diante das câmeras da tevê, o dirigente da Rede Solidária, Juan Carr. Ao mesmo tempo, o rabino Daniel Goldman, da comunidade Bet El, deixava claro em sua mensagem, expressada através de aplausos e orações: "Pedimos não à violência e sim à paz. Pedimos uma sociedade em paz". Até meados da década passada, Buenos Aires se distinguia do resto das metrópoles da América Latina por sua segurança. Caminhar pelas ruas durante a madrugada era quase um hábito entre os jovens. Mas o delito e a violência começaram a crescer ao compasso da recessão econômica que começou em 1998 e que fez o desemprego disparar até chegar a 21,5% e levou mais da metade dos 36 milhões de argentinos a viver na pobreza. Na última década, a taxa de delinqüência triplicou, aumentando em escala proporcional ao crescimento da pobreza, segundo dados oficiais. Os manifestantes concordaram em que o aumento da violência na Argentina está relacionado com a falta de trabalho, uma polícia com insuficiente treinamento, uma Justiça demasiado lenta e permeável e leis que não se adaptam aos novos delitos. A Fedecámaras - uma entidade que agrupa os pequenos comerciantes - realizou um ato no Obelisco de que participaram pais e familiares de vítimas da delinqüência. "O ânimo é pedir pela paz", disse entre lágrimas a mãe de um jovem assassinado meses atrás após ser seqüestrado em Olivos, ao norte de Buenos Aires. Por sua vez, os funcionários da Aerolíneas Argentinas, a empresa aérea nacional, entoaram o hino em todos os aeroportos do país, enquanto nos televisores colocados nas estações de metrô de Buenos Aires se podia ler durante meia hora a frase: "Não à violência". A Jornada pela Paz obteve a adesão da maior parte das ONGs e grupos de comerciantes e profissionais da Argentina.

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