Argentinos fazem novo panelaço contra Cristina Kirchner

Segundo pesquisa, seis de cada dez argentinos consideram que governo está 'descontrolado'

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Por Ariel Palacios e correspondente em Buenos Aires
Atualização:

BUENOS AIRES - A presidente Cristina Kirchner será alvo de um novo panelaço de protesto contra seu governo na noite desta quinta-feira, 8. O protesto, convocado pelas redes sociais, sem a participação explícita dos partidos políticos da oposição, teria um amplo leque de reclamações, desde a escalada inflacionária cuja existência a presidente nega, o surgimento de novos escândalos de corrupção envolvendo integrantes do kirchnerismo, o aumento da criminalidade e a intervenção crescente da Casa Rosada na economia.

 

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Nos últimos dias também causou irritação popular a publicação no Diário Oficial de que a presidente destinará R$ 1 milhão para a remodelação de um banheiro no andar do escritório presidencial. A irritação popular aumentou mais ainda ontem à tarde, quando um apagão - provocado por falhas em uma rede administrada pelo governo federal - deixou 3 milhões de pessoas sem energia elétrica em Buenos Aires e nos municípios do entorno da capital. O apagão provocou a suspensão dos serviços de trens e metrô, gerando caos no trânsito portenho.

 

Impopular

 

Segundo uma pesquisa da consultoria Management & Fit, a aprovação popular de Cristina é de apenas 31,6%. Outros 59,3% desaprovam a forma como ela está governando a Argentina. Além destes, 9,1% não possuem opinião formada. O cenário é radicalmente diferente à paisagem política de um ano atrás, quando Cristina foi eleita com 54% dos votos. Atualmente, ela tem menos de metade dos 64% de popularidade que ela ostentava em dezembro passado, quando o governo anunciou que ela sofria de um câncer na tireoide (doença cuja suposta existência depois teve que desmentir).

 

Os analistas afirmam que tudo indica que o panelaço, que há várias semanas está sendo convocado nas redes sociais, teria amplo sucesso. Segundo a pesquisa da Management & Fit, 64% dos entrevistados são a favor do panelaço, embora um setor dos entusiastas com o protesto afirme que não sairá de casa para marchar contra o governo em direção à Casa Rosada, preferindo bater as panelas nas janelas ou portas de suas casas. Há panelaços também previstos para hoje à noite no exterior, que seriam protagonizados por argentinos residentes em outros países, entre eles, o Brasil.

 

Este é o segundo panelaço contra a presidente Cristina nos últimos dois meses. O primeiro, no dia 13 de setembro, levou 200 mil pessoas às ruas em Buenos Aires, enquanto outros 100 mil manifestaram-se nas principais cidades do interior. Grupos nas redes sociais já programam outro panelaço para dezembro.

 

Nos últimos dias o governo começou uma campanha de desprestígio do panelaço, indicando que as forças da oposição estariam por trás da manifestação. "O protesto do dia 8 é uma invenção da ultra-direita pagã. É um protesto contra o povo!", disse o senador Aníbal Fernández, ex-chefe do gabinete de Cristina e principal homem da presidente no Senado. A ex-candidata presidencial e deputada Elisa Carrió, da Coalizão Cívica, de oposição, declarou que o panelaço deveria ser "apolítico". Ela sustenta que a oposição não deveria participar do panelaço: "o povo é o protagonista principal nesta manifestação". Segundo Carrió, o panelaço é uma "marcha pela liberdade".

Manifestação foi convocada pelas redes sociais com imagens como esta

 

Sem controle

 

Outra pesquisa, da consultoria Poliarquia, indica que 46% dos entrevistados consideram que a presidente Cristina "está perdendo o controle" de seu governo. Outros 20% são mais pessimistas e afirmam que a presidente "já perdeu" o controle. Sergio Berensztein, analista da Poliarquia, afirma que a imagem da presidente está "desvalorizando-se muito rapidamente devido aos problemas acumulados do governo Kirchner".

 

Na pesquisa da Management & Fit, o vice-presidente Amado Boudou, roqueiro amador nas horas vagas, ostenta uma desaprovação de 53%. Boudou, que protagoniza um escândalo de corrupção, o "Caso Ciccone", por supostos favores em negócios da gráfica que o Estado argentino terceirizava para a impressão de cédulas de pesos, somente possui 11,6% de imagem boa, outros 1,1% de imagem muito boa,e 21,1% de imagem regular.

 

No entanto, a oposição também vai de mal a pior. Segundo a pesquisa, 70,4% dos entrevistados desaprovam o trabalho dos partidos da oposição. Somente 13,9% aprovam os líderes que confrontam a presidente Cristina, enquanto que outros 15,7% não possuem opinião formada. 

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