Argentinos realizarão protesto contra Bolsonaro

Em meio à campanha eleitoral, Macri aproveita visita do brasileiro para mostrar que tem apoio para seu plano de estabilização econômica

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Por Luciana Dyniewicz
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Em meio à corrida eleitoral e diante de uma crise de imagem e econômica, o presidente argentino, Mauricio Macri, recebe nesta quinta-feira Jair Bolsonaro em Buenos Aires, em uma tentativa, segundo analistas, de mostrar que tem apoio externo ao seu programa de estabilização econômica. À semelhança do que ocorreu em sua viagem ao Chile, Bolsonaro será recebido por manifestantes contrários a seu governo.

Mauricio Macri, presidente da Argentina Foto: Agustin Marcarian / Reuters

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Na Casa Rosada, o discurso oficial é que não haverá danos à já combalida imagem de Macri. “Bolsonaro é um presidente eleito, em eleições cujos resultados não foram questionados. É um presidente com legítimo direito e, independentemente de qualquer orientação, a Argentina vai recebê-lo como recebe todos os presidentes”, afirmou ao Estado o ministro de Produção e Trabalho argentino, Dante Sica.

Em um país em que a ditadura é lembrada todas as quintas-feiras, quando as Avós da Praça de Maio voltam a seu ponto de encontro e leem o nome de parentes desaparecidos, os discursos de Bolsonaro podem ser mal recebidos e a associação do brasileiro com Macri, mal vista pelos eleitores – a eleição será em 27 de outubro e a chapa Alberto Fernández e Cristina Kirchner lidera as pesquisas.

“O presidente brasileiro é desprezível. Na Argentina, é muito claro que os militares sequestraram e desapareceram não só com militantes da luta armada, mas também estudantes, professores e trabalhadores. Neste país, esse discurso de ódio se sustenta apenas em setores minoritários”, diz Agustín Cetrángulo, da associação H.I.J.O.S. (sigla que significa “filhos pela identidade e justiça contra o esquecimento e o silêncio”).

Além da H.I.J.O.S., outras 63 entidades de esquerda convocaram um protesto contra Bolsonaro. Na última visita de um dirigente brasileiro à Argentina, um protesto semelhante não reuniu mais que cem pessoas contra Michel Temer na Quinta de Olivos, a casa presidencial. Desta vez, porém, espera-se uma presença maior, pois há mais grupos envolvidos.

Para Daniel Kerner, da consultoria de risco político Eurasia, a chapa kirchnerista deverá usar as imagens de Bolsonaro na Argentina contra Macri. Kerner, porém, acredita que o eleitor indeciso não deve ser influenciado por isso. “Ele está mais preocupado com a situação econômica”, afirma. O PIB caiu 2,5% no ano passado e, segundo projeções, recuará mais 1,2% em 2019, enquanto a inflação nos últimos 12 meses chegou a 55%.

Macri pretende renovar suas credenciais econômicas ao receber Bolsonaro, segundo o analista Rosendo Fraga. “Para a estratégia de Macri, o apoio externo é importante para conter a instabilidade. Donald Trump o apoia publicamente e também os presidentes do Chile (Sebastián Piñera) e do Brasil. Pode ser que isso tenha um custo eleitoral para Macri, mas isso é incerto”, diz.

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Foi por apoio internacional que o ministro da Fazenda argentino, Nicolás Dujovne, esteve no Brasil em abril para se encontrar com o ministro da Economia Paulo Guedes. Dujovne saiu com palavras de apoio. “Apoiaremos todos os esforços de estabilização da Argentina”, disse Guedes.

Nas reuniões desta quinta-feira, porém, nenhum grande acordo econômico deve ser anunciado, disse ao Estado o ministro da Produção. “Vamos tratar da questão do Mercosul e da União Europeia, de como vai o setor automotivo, de convergências regulatórias. São assuntos que sempre estão na mesa”, disse Sica.

O Estado apurou que, durante a viagem, deverão ser anunciados tratados de cooperação nas áreas de energia, mineração e segurança, além de um memorando de entendimento sobre defesa do consumidor.

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