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Argentinos vivem o pior Natal dos últimos anos

Por Agencia Estado
Atualização:

A crise econômica e social fará com que este seja o pior Natal dos argentinos nos últimos anos. Com 18,3% da população economicamente ativa desempregada, e outros 16,3% no subemprego, as lojas e shoppings de Buenos Aires nunca venderam tão pouco. Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), em outubro (últimas estatísticas disponíveis) as vendas nos supermercados haviam caído 10,3% em relação ao ano passado. Nos shoppings, a queda foi de 20,1%. Nos últimos dois meses do ano, a redução deve ter alcançado proporção ainda maior. A limitação dos saques bancários a 250 pesos por semana, adotada no início de dezembro pelo ex-ministro Domingo Cavallo, travou ainda mais o consumo, que acabou sofrendo novo golpe com a onda de saques. Estas manifestações acompanharam os protestos populares, que culminaram com a queda do governo. Liqüidação - No Abasto, um shopping localizado num bairro de classe média de Buenos Aires, onde nasceu Carlos Gardel, um dos ídolos nacionais a crise provoca cenas inusitadas: em plena época de festas, muitas lojas promovem liqüidações. Numa loja de roupas masculinas, quem gasta 100 pesos leva mercadorias no valor de 150 pesos. Na Portsaid, uma loja de artigos femininos, os preços baixaram cerca de 20%. "Para levantar um pouco o ânimo das pessoas e impulsionar as vendas", diz a gerente, Carla Gomez. Na semana passada, quando explodiram os conflitos entre manifestantes e a polícia, alguns supermercados do bairro chegaram a ser saqueados. Temendo a mesma sorte, os lojistas do shopping, que normalmente fica aberto até a meia-noite, fecharam suas portas no final da tarde. No último fim de semana, com a situação já normalizada, o Abasto recebeu muitos visitantes, mas o movimento não se traduziu em vendas. O gerente de uma loja de brinquedos, Fernando Raed, calculava que o faturamento de Natal este ano será 40% inferior ao do ano passado. "Trabalho aqui há quatro anos, e só tenho visto queda de vendas", dizia ele. Até o conhecido hábito de leitura dos argentinos sofre com a crise: na livraria Fausto, o gerente Rafael Leiva diz estar vendendo 25% menos neste Natal. O último ano em que a economia argentina registrou crescimento foi em 1997. Desde então, foram quatro anos de recessão. As estatísticas mais recentes, divulgadas no final da semana passada, mostram que, no terceiro trimestre de 2001, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 4,9% em relação ao mesmo período do ano passado. Desemprego - O desemprego não é a única conseqüência da crise que afeta a capacidade de consumo dos argentinos. Um senhor aposentado que almoça com a mulher e o neto num dos restaurantes do shopping, conta que seu filho, um engenheiro de uma grande indústria têxtil, com forte presença também no Brasil, está há seis meses sem receber integralmente seu salário. Com isso, a mesa da reunião habitual da família na noite de Natal será bem menos farta. "Será um Natal mais triste, por tudo o que está acontecendo", diz ele. "Até o ano passado, nessa época, se ouviam fogos pela cidade. Este ano, ninguém quer queimar nem 1 peso", comenta. Leia o especial

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