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Arsenal nuclear paquistanês preocupa o Ocidente

Por Agencia Estado
Atualização:

Os mais bem-guardados segredos militares do Paquistão estão fechados numa fortaleza absoluta, 75 quilômetros ao norte da capital, Islamabad, e próximo da região da Caxemira, que o país disputa com a Índia há cinco décadas. Na unidade, à qual nenhuma pessoa sem uma autorização de alto nível tem acesso, estão as cerca de 50 ogivas nucleares que são o orgulho dos paquistaneses. A rivalidade com os indianos, que também têm a bomba atômica, levou os habitantes do Paquistão a sacrificarem o desenvolvimento do país para investir pesadamente no programa nuclear. Em quase todas as cidades paquistanesas há monumentos para lembrar a todos que o Paquistão é uma potência atômica. Mas a presença desse arsenal num país de Terceiro Mundo, envolvido em guerras com a Índia desde sua fundação, em 1947, e sujeito às ações de grupos fundamentalistas islâmicos e terroristas - tanto na Caxemira quanto nas províncias do oeste, na fronteira com o Afeganistão - causa calafrios no Ocidente. O temor de que ocorra algum acidente é óbvio, mas o pavor maior é o desse arsenal cair em mãos erradas. Mãos que podem ser tanto as do terrorista saudita Osama bin Laden quanto as de algum déspota belicoso anti-Ocidente que se aventure a tomar o poder em Islamabad. "É preciso mais do que know-how e loucura para que se construa uma arma atômica, mesmo que rudimentar", declarou ao Estado, sob a condição de manter-se anônimo, um físico nuclear que trabalhou na Usina Nuclear de Karachi, a primeira e maior do país, e fez parte do conselho do Instituto Paquistanês de Ciência e Teconologia Nuclear (Pinstech). "Para desenvolver uma arma atômica, são necessários equipamentos e laboratórios sofisticados e caros, que nem mesmo todo o dinheiro que circula hoje no Afeganistão poderia comprar. Não acredito que Bin Laden ou a Al-Qaeda tenha condições de manipular material radiativo, mas acho prudente reforçar ao máximo a segurança do arsenal paquistanês." Então o mundo pode respirar aliviado e afastar a hipótese de uma ameaça terorista atômica? "Por enquanto, a possibilidade de grupos privados desenvolverem armas nucleares é remotíssima", diz o cientista. "Mas é preciso lembrar que um clindro pequeno de rádio ou de césio, que pode ser encontrado em máquinas de raio-x de uso médico, pode contaminar uma cidade inteira por décadas, se manipulado de forma errada e, hipoteticamente, poderia ser usado como uma espécie de antraz radiativo por algum terrorista suicida." Para o Instituto de Estudos Estratégicos de Islamabad, porém, o risco de as armas nucleares paquistanesas caírem em poder de Bin Laden ou de grupos radicais é zero. "Nosso programa nuclear foi estabelecido em 1963", disse ao Estado um dos funcionários do instituto, Mohammad Khan. "Desde essa data, nunca tivemos um único incidente nuclear. Os padrões de segurança do arsenal atômico e das usinas nucleares estão nos mesmos níveis dos procedimentos adotados nos EUA ou nos países atômicos da Europa." Até maio de 1998, a bomba atômica paquistanesa era um segredo de Polichinelo. Islamabad não admitia ter a arma, mas o Ocidente sabia que ela estava pronta para ser usada a qualquer momento. O governo do ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif só anunciou publicamente a existência de seu arsenal atômico após a realização de cinco explosões experimentais na localidade de Chaghi, no remoto oeste do país. As cinco bombas paquistanesas liberaram energia equivalente entre 5 e 20 quilotons. Como referência, a bomba lançada contra Hiroxima, em 1945, foi de 20 quilotons. Os ensaios paquistaneses ocorreram menos de 15 dias depois de a Índia também ter realizado testes atômicos. Como conseqüência, os dois países sofreram pesadas sanções econômicas do Ocidente - que foram levantadas nos últimos dias por causa da lógica de guerra dos EUA, que consideram o Paquistão o aliado-chave da campanha militar que Washington lidera contra o terrorismo. Durante a visita que fez a Islamabad, em outubro, o secretário de Estado americano, Colin Powell, ofereceu ao governo ?de facto? do presidente paquistanês, Pervez Musharraf, ajuda para manter a segurança do arsenal nuclear do país. Na semana passada, três cientistas nucleares paquistaneses suspeitos de simpatizarem com a milícia Taleban - que controla quase todo o Afeganistão e está sob intenso ataque aéreo americano - foram detidos para interrogatório, segundo fontes de imprensa de Islamabad. Mas a preocupação com o destino das armas atômicas paquistanesas ainda está longe da fase de alerta máximo. Uma das melhores demonstrações disso foram as declarações das autoridades indianas, segundo as quais o arsenal paquistanês "está seguro e em mãos responsáveis". Leia o especial

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