Artigo: Trump já não está só

O fato de outros países da região cooperarem com os EUA é um bom sinal bom, mas o presidente se destaca por criar crises sem nenhum plano real

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Por Daniel Drezner
Atualização:

As frases “governo Trump” e “resposta diplomática coordenada” normalmente não apareceram na mesma sentença nos últimos dois anos. O único exemplo do qual eu me lembro, antes desta semana, foi a expulsão coordenada de diplomatas russos e o fechamento de consulados após o envenenamento do antigo espião russo Sergei Skripal e sua filha, na Grã-Bretanha, em março. 

Na quarta-feira, ele anunciou que não mais reconhece Nicolás Maduro como legítimo presidente da Venezuela e decidiu endossar o líder da oposição Juan Guaidó como presidente interino. O importante é que os EUA não foram os únicos neste hemisfério a tomar essa decisão. Canadá, Argentina, Chile, e sete outros Estados membros da Organização dos Estados Americanos (OEA) assumiram posição similar.

O presidente americano, Donald Trump. Foto: Brendan Smialowski / AFP

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O motivo está bastante claro. Maduro, nas palavras da Economist, é “provavelmente o presidente menos bem-sucedido do mundo”. Segundo o Financial Times, a hiperinflação é desenfreada e a economia encolheu 50% nos últimos cinco anos. Casey Michael, do ThinkProgress, fez um retrato brutal da cleptocracia do regime. Trata-se da economia mais corrupta no hemisfério ocidental. E o Fundo Monetário Internacional (FMI) observou que o país tem a segunda maior taxa de riqueza offshore como uma porcentagem do PIB – Produto Interno Bruto.

Portanto, vamos imaginar que Maduro é um déspota corrupto e ilegítimo e os venezuelanos estarão numa condição muito melhor se o regime não mais existir. Mas há uma pequena dúvida sobre como isso ocorrerá e sobre a capacidade do governo Trump de administrar uma situação cada vez mais tensa. Nahal Toosi, do Politico, resumiu em que ponto a situação está: “Um membro do alto escalão do governo alertou que todas as opções estão sobre a mesa no que se refere a punir ainda mais Maduro e seus assessores. Ele não descartou uma ação militar, algo que Trump já havia ventilado”.

“Os EUA ‘não consideram o ex-presidente Nicolás Maduro como tendo autoridade legal para romper as relações diplomáticas com os EUA ou declarar nossos diplomatas persona non grata”, disse Pompeo, alertando Maduro e as forças de segurança da Venezuela para não recorrerem a medidas arriscadas. “Os EUA adotarão as medidas apropriadas para responsabilizar qualquer pessoa que coloque em risco a segurança e a proteção da nossa missão e seu pessoal”, afirmou Pompeo.

Parece bem claro que o governo Trump acredita que o regime Maduro vai se curvar como uma peça de origami. Toosi cita um membro do governo que teria dito que os EUA já começaram a esboçar as possíveis sanções a serem impostas contra o governo venezuelano, acrescentando que “se eles escolherem o caminho da violência e tentarem usurpar a ordem constitucional e a democracia, vamos deixar claro que temos uma variedade de opções”.

Esta é a esperança de Guaidó também. Na semana passada, ele escreveu um artigo publicado pelo The New York Times que incluiu um apelo às forças armadas. “Queremos enviar uma mensagem ao Exército, um protagonista chave neste processo: a cadeia de comando foi rompida e não existe um comandante chefe. Chegou o momento ficar do lado certo da história”, escreveu.

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Trump está certo? Não podemos negar que o país é um caso perdido do ponto de vista econômico. Além disto, existem alguns sinais de que o Exército vem cambaleando com relação a Maduro. Segundo Tom Phillips, do Guardian, ocorreu um motim em pequena escala nas fileiras das forças armadas esta semana. É possível que alguns oficiais do Exército não acatem as ordens e esse impasse acabe pacificamente.

As sanções afetarão também a economia dos EUA e o governo Trump tem exagerado persistentemente a possibilidade de as sanções econômicas provocarem o colapso do Estado. A equipe de segurança nacional de Trump também acha que as sanções levarão o regime iraniano ao colapso e não há nenhuma evidência de que isso esteja ocorrendo.

A Venezuela está numa situação muito pior da enfrentada por seus colegas membros da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep), mas isso se verifica há anos e Maduro continua no poder. O que nos leva a uma pergunta desagradável: se os EUA insistirem em manter aberta sua embaixada e Maduro controlar todo o território em torno dela, como isso vai acabar?

Diria que o regime Maduro provavelmente estabelecerá um cerco da embaixada e esperará os funcionários ficarem sem comida e outras necessidades básicas.

O fato de outros países da região cooperarem com os EUA até agora é um bom sinal bom. Mas Trump é um presidente que se destaca por criar crises sem nenhum plano real para sair de uma situação se o outro lado não aquiescer. Não tenho nenhuma ideia de como isto vai terminar. E o que me preocupa é que a constatação acima vale também para a equipe de segurança nacional do governo./ TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO 

É PROFESSOR DE POLÍTICA INTERNACIONAL NA FLETCHER SCHOOL OF LAW AND DIPLOMACY