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Artigo: Um mundo diferente após a covid-19

Pesquisas apontam algumas mudanças permanentes de hábitos, como cuidar da saúde usando aplicativos, de forma autônoma

Por David Ignatius
Atualização:

Quando os CEOs visitam o Washington Post hoje para falar a respeito do que está por vir no mundo dos negócios, frequentemente ouvimos a mesma mensagem: muitas das mudanças causadas pela pandemia do novo coronavírus provavelmente serão permanentes. Depois que isso acabar, teremos um “novo normal” que terá uma aparência e uma sensação diferente de como vivíamos antes.

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Dara Khosrowshahi, CEO da Uber, foi o mais recente líder empresarial a descrever essa realidade pós-pandemia. Em uma conversa transmitida na segunda-feira, ele previu que o serviço de entrega Uber Eats de sua empresa, que explodiu em popularidade após o lockdown, será quase igual em tamanho ao seu tradicional negócio de transporte de pessoas daqui para frente, depois que a pandemia acabar.

Dados de organizações de pesquisa, consultores e analistas de pesquisa apresentam pontos semelhantes. Alguns aspectos da vida voltarão a ser como eram antes, mas muitos não. Um estudo realizado em setembro com 13,2 mil americanos pelo Pew Research Center relatou que 51% acreditavam que suas vidas permaneceriam mudadas de muitas maneiras.

Máscaras faciais são penduradas em um barco durante um bloqueio nacional para conter a disseminação do coronavírus, no porto da cidade de Jaffa, em Israel. Foto: Oded Balilty / AP 

Os pesquisadores oferecem algumas previsões iniciais. A tecnologia permitirá que as pessoas trabalhem, façam compras e estudem remotamente, e muitas pessoas continuarão os hábitos que adquiriram desde março. Empresas e trabalhadores ágeis estarão à frente, outros podem ser deixados para trás. As desigualdades raciais e econômicas podem se aprofundar, a menos que sejam abordadas energicamente.

A pandemia, como as crises nacionais passadas, tem demonstrado a flexibilidade dos EUA, bem como sua vulnerabilidade. O governo federal pode ter ficado paralisado por causa de divisões políticas e liderança fraca, mas estudos mostram que empresas privadas e muitos governos estaduais e locais se adaptaram com velocidade surpreendente.

Um relatório deste mês da consultoria McKinsey & Co. descobriu que as empresas têm mudado para o trabalho remoto mais de 40 vezes mais rápido do que esperavam. As interações com clientes de empresas americanas agora são 65% digitais, em comparação com 41% antes da crise. As mudanças feitas para lidar com a pandemia – como a mudança para a computação em nuvem ou as compras online – “provavelmente permanecerão no longo prazo”.

O choque da pandemia alterou rapidamente alguns hábitos de consumo. Um relatório de julho da McKinsey descobriu que os americanos estavam gastando mais com mantimentos, suprimentos domésticos e entretenimento doméstico e menos com quase todo o resto. Setenta e cinco por cento disseram que mudaram seu comportamento de compras e a maioria disse que planejava continuar (com os novos hábitos).

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A saúde obviamente foi uma questão primordial durante a pandemia, e as mudanças neste setor provavelmente também persistirão. Um estudo realizado em julho pela Accenture com 2,7 mil pacientes nos Estados Unidos e outros países industrializados descobriu que 70% tinham cancelado ou adiado tratamentos pessoais presenciais, mas que 9 em cada 10 pensavam que estavam se cuidando tão bem ou melhor do que antes e 44% estavam usando novos dispositivos ou aplicativos para gerenciar condições de saúde.

Os americanos podem vir a exigir uma rede de segurança social mais forte, pós-pandemia. Um relatório de setembro do Pew Research Center descobriu que 63% dos americanos concordaram que é “responsabilidade do governo garantir que todos os americanos tenham cobertura de saúde”, em comparação com 59% um ano atrás.

Trauma

A pandemia de covid-19 tem causado estresse pós-traumático em adultos e crianças, e isso pode persistir. Estudos este ano na China, Reino Unido, Espanha, Itália e no Canadá de pacientes com covid-19 encontraram sintomas de estresse pós-traumático, como depressão, ansiedade e insônia, de acordo com o Psychiatric Times. Um estudo com 8.079 alunos do ensino fundamental e médio na China descobriu que 43,7% experimentaram sintomas depressivos e 37,4% experimentaram ansiedade durante o período epidêmico.

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Um aspecto cruel da pandemia é que ela tem prejudicado mais as minorias e exacerbado as desigualdades raciais e econômicas dos Estados Unidos. É muito mais provável que negros e hispânicos digam que tenham tido problemas para pagar as contas ou o aluguel, ou que um parente perdeu o trabalho ou teve de aceitar corte de salário, de acordo com uma pesquisa de setembro do Pew Research Center.

Como a “geração grandiosa” que emergiu da crise e da guerra, a geração da pandemia tem sido testada – e parece estar aprofundando seu compromisso com um país diversificado e sustentável. Um estudo do Pew Research Center descobriu um aumento significativo desde 2016 na porcentagem de millennials que acreditam que é bom que os Estados Unidos em breve tenham uma maioria de cidadãos negros, latinos e asiáticos. A geração Y também é apaixonada pelo tema da ameaça da mudança climática: 92% dos apoiadores millennials ou mais jovens de Biden dizem que isso é importante; o mesmo acontece com 49% dos apoiadores de Trump nesse grupo.

As dificuldades compartilhadas da pandemia irão mudar os Estados Unidos, tão certo quanto aconteceu com a Crise Econômica de 1929 e a 2.ª Guerra. A dor é óbvia agora, mas a resiliência também é. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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*É COLUNISTA DEDICADO A RELAÇÕES INTERNACIONAIS E ESCRITOR

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