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As pérolas de Berlusconi: de "crianças cozidas" a "imbecis"

Durante a campanha, o premier deixou de lado os bons modos e lançou mão de uma linguagem própria de "cabaré de quarta classe"

Por Agencia Estado
Atualização:

Mais veemente do que nunca, Silvio Berlusconi brilhou na campanha eleitoral italiana não por seus bem construídos discursos, mas pelo rosário de insultos que disparou contra seus adversários. Na mais recente das provocações, o primeiro-ministro italiano chamou de "coglioni" (imbecis) os eleitores de seu concorrente na corrida eleitoral, o centro-esquerdista Romano Prodi. Antes disso, Berlusconi havia dito que crianças teriam sido "cozidas" para servir de adubo na China de Mao Tsé-tung. Durante a campanha, o primeiro-ministro deixou de lado os bons modos e lançou mão de uma linguagem qualificada pela oposição, de esquerda, como própria de "cabaré de quarta classe". Berlusconi, que popularizou o uso da frase "mi consenta" ("permita-me", em português), passou a classificar o líder da oposição, Romano Prodi, de "tolo útil" e "desgraçado". E não parou por aí. Ao receber um grupo de estudantes na sede do Governo, Berlusconi disse que todas as jovens do mundo do espetáculo operam os seios aos 23 anos, enquanto ele tocava o próprio peito com o intuito de dar mais ênfase às suas palavras. "Messias" Se os estudantes ficaram "alucinados", como contaram, muitos católicos se sentiram da mesma forma quando o premier assegurou ser "o Jesus Cristo da política, uma vítima paciente que se sacrifica por todos". Por se sentir "Jesus Cristo", batizou seus partidários durante um comício "como os missionários da verdade". Não satisfeito com a nada modesta comparação, também disse que só Napoleão Bonaparte fez mais coisas que ele. E para não ficar por baixo, não hesitou em acrescentar: "Mas, de qualquer forma, sou mais alto que Napoleão". Já eram mais que suficientes, mas o repertório de "pérolas" se enriqueceu ainda mais com sua comparação com Winston Churchill, quando afirmou em terceira pessoa: "Silvio Berlusconi nos liberta dos comunistas", como o ex-premier britânico fez com os nazistas. Crianças cozidas Além disso, afirmou, em um comício em Nápoles, que na China de Mao "as crianças eram cozidas para adubar os campos", o que provocou um protesto das autoridades chinesas. "Quem ler o Livro Negro do Comunismo saberá que na China de Mao não se comiam criancinhas, mas elas eram cozidas para adubar os campos. Uma coisa horrenda, mas infelizmente verdadeira", afirmou em meio aos aplausos de seus fãs. Foi a senha para um escândalo. A esquerda disse que Berlusconi desacreditou a Itália, mas alguns de seus aliados, como Alessandra Mussolini, neta do Duce, afirmam que o premier não dissera toda a verdade sobre a China de Mao. A polêmica parecia não acabar, mas, como de costume, um escândalo encobre o anterior. "Imbecis" Poucas horas depois de anunciar que, caso ganhasse as eleições, acabaria com o imposto sobre a primeira casa, chamou de "imbecis" os italianos que não votarem nele, o que representou um insulto para mais ou menos a metade do país, segundo as últimas pesquisas. A esquerda, que durante toda a campanha manteve, em comparação com Berlusconi, um "perfil ameno" no que se refere aos insultos, respondeu chamando-o de "miserável" e "provocador". Paralelamente, uma "rebelião" dos "coglioni" ganhou força. Foram criados sites, visitados por dezenas de milhares de "coglionis", felizes por sua condição, segundo escreveram. Nos comícios da esquerda, cartazes mostravam frases como "melhor ser ´coglioni´ que votar em Berlusconi". Segundo a esquerda, a "graça" do rei da TV privada se transformou em um "bumerangue". Em um dos momentos de maior tensão, durante o último debate televisivo com Romano Prodi, o candidato de oposição disse a Berlusconi, em referência aos dados que expunha, que o premier se agarrava aos números "como um bêbado a um poste de luz, não para que este o ilumine, mas para se sustentar". Berlusconi, irado, perdeu de novo a compostura e disse ao líder de centro-esquerda que este tinha jeito de "padre bonachão" e era "um tolo útil" que fazia o jogo dos comunistas. Erva daninha O premier italiano esbravejou durante toda a campanha contra os comunistas. Afirmou que o velho Partido Comunista Italiano (PCI) "recebia dinheiro manchado de sangue procedente da URSS", governada por Stalin e Lenin, "duas pessoas más que odiavam a vida". No "quadro de honra" das acusações de campanha - estas feitas pela esquerda - também se destacam: Berlusconi é "um desesperado que sabe que vai perder" e "um vendedor de fumaça". Berlusconi respondeu com outra "pérola": "A esquerda é como a erva daninha, infecta tudo e é difícil extirpá-la".

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