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Às portas da recessão, economia passa a dominar campanha nos EUA

Crise econômica americana deixa para trás a guerra no Iraque e torna-se a principal preocupação dos eleitores

Por Patrícia Campos Mello
Atualização:

A economia transformou-se na principal preocupação dos eleitores americanos, deixando questões espinhosas como a guerra no Iraque e a imigração no papel de coadjuvantes. Segundo pesquisa da CNN realizada em dezembro, a economia é a principal questão para 29% dos eleitores, seguida pelo Iraque (23%), assistência à saúde (20%), imigração ilegal (14%) e terrorismo (10%). As próximas etapas da corrida presidencial americana - Michigan, Nevada e Flórida - são justamente em alguns dos Estados mais afetados pela crise imobiliária do país. Com o barril do petróleo a US$ 100 e economistas admitindo que os EUA já podem estar entrando em uma recessão, os candidatos à presidência tratam de recalibrar estratégias para centrar o foco na economia. Na sexta-feira, Hillary Clinton apresentou seu plano de US$ 70 bilhões de estímulo fiscal para a economia, incluindo habitação de emergência e assistência para pagar as contas de aquecimento. Ela quer capitalizar sua vantagem com os eleitores democratas mais pobres. Obama vai bem com os mais educados e com maior nível de renda. Até no lado republicano, tradicionalmente avesso a qualquer tipo de intervenção na economia, a luta da classe média vem ganhando destaque. Mike Huckabee conquistou muitos eleitores com sua plataforma populista - à "John Edwards republicano" -, sua proposta de imposto único e menções à desigualdade de renda. O republicano Rudy Giuliani divulgou na semana passada seu plano de simplificação e redução de impostos. No debate entre republicanos da Carolina do Sul na quinta-feira, a crise de hipotecas foi tema recorrente. E John McCain iniciou sua rodada de comícios em Michigan falando dos empregos perdidos por causa da globalização. Para analistas, uma das maiores beneficiadas pelo foco econômico da campanha é Hillary. Pesquisas em New Hampshire mostram que ela foi a mais votada entre os eleitores que citaram a economia como a maior preocupação (44%, diante de 31% de Obama). A senadora também foi bem entre eleitores que acreditam estar ficando para trás financeiramente. Ao mesmo tempo, o tema da economia pode ser uma vantagem também para Obama. "Com o foco na economia, há menos preocupação com a falta de experiência de Obama em política externa", diz a professora Sunshine Hillygus, da Universidade Harvard. O tema também pode ser uma vantagem para Mitt Romney, especialista em "volta por cima" que recuperou financeiramente as Olimpíadas de Inverno e é um empresário milionário. Seguindo esse raciocínio, a experiência em política externa e combate ao terrorismo de McCain e Giuliani passam a valer menos. A última eleição "econômica" foi em 1992, quando a campanha de Bill Clinton cunhou o slogan "é a economia, estúpido!" Na época, o guru de campanhas James Carville dirigiu a estratégia de Clinton no combate à recessão que se abateu sobre a economia americana. Clinton derrotou George Bush pai, apesar dos grandes feitos dele em política externa. MINORIAS Além da economia, os candidatos mobilizam-se para atrair o voto de hispânicos e negros nas próximas primárias. Na Carolina do Sul, onde a primária democrata se realiza no dia 26 e a republicana, no dia 19, mais de 50% do eleitorado é negro. Isso poderia ser uma vantagem para Obama, mas pesquisas mostram que grande parte das mulheres negras apóia Hillary. O voto evangélico também será determinante na Carolina do Sul. Huckabee, pastor batista, está contando com esses votos, parte expressiva do eleitorado republicano do Estado, para derrotar John Mc Cain. A conservadora Carolina do Sul foi o Estado que enterrou a indicação de McCain à candidatura do partido em 2000. Obama ganhou o apoio do importante Sindicato de Trabalhadores da Área de Gastronomia de Nevada, Estado com grande população hispânica. Mas Hillary herdou apoio de importantes líderes hispânicos que apoiavam Bill Richardson, o latino que é governador do Novo México e abandonou a disputa presidencial. Hillary continua trabalhando duro para conquistar o eleitorado latino, de olho em Estados importantes da Superterça que têm grande porcentagem de hispânicos - Califórnia, Arizona, Colorado e Novo México. O prefeito de Los Angeles, Antonio Villaraigosa, está fazendo campanha para Hillary. Giuliani, que praticamente ignorou Iowa e New Hampshire, está apostando todas as fichas na Flórida, onde sua campanha veicula vários anúncios em espanhol, com o tema "Liderazgo" (liderança). Depois da vitória em New Hampshire, tanto Hillary como McCain aceleraram o ritmo de arrecadação de recursos de suas campanhas. Hillary chegou a arrecadar US$ 2 milhões nos dois dias seguintes à primária de terça-feira. O dinheiro veio em boa hora, porque Hillary já havia torrado a maior parte de seus US$ 100 milhões e estava com "apenas" US$ 27 milhões. Para McCain, cuja campanha quase naufragou por falta de dinheiro em julho, a vitória também foi muito importante. O candidato arrecadou US$ 1 milhão entre os dias 1º e 8. Agora começa a fase mais cara da campanha primária, nos Estados maiores, onde o corpo-a-corpo com eleitores é menos eficiente e são necessários grandes investimentos em propaganda.

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