Os resultados da boca de urna no Peru marcaram um empate técnico entre Keiko Fujimori e Pedro Castillo, com uma pequena vantagem para a candidata do Força Popular. Mas é necessário ressaltar alguns pontos enquanto não temos os resultados oficiais. Em primeiro lugar, Keiko foi somando apoios que lhe permitiram diminuir a distância para o oponente (mais de 10 pontos percentuais) desde que começou a campanha do segundo turno.
Isso se deveu ao apoio de Vargas Llosa e outros atores da centro-direita peruana que atenuaram o anti-fujimorismo. Essa identidade negativa ficou presa apenas ao campo da esquerda.
Em segundo lugar, principalmente nas últimas semanas, Keiko conseguiu sintonizar um nível de identidade com o eleitorado feminino por meio de uma campanha nas mães das famílias tradicionais peruanas, bastião histórico do fujimorismo.
Em terceiro lugar, e já nos últimos dias da campanha, o fujimorismo reforçou uma campanha para promover a participação eleitoral dos mais velhos, grupo etário favorável ao partido nas zonas urbanas do país. Essa estratégia de “Get Out The Vote” foi chave para essa possível surpresa.
Por outro lado, na ala de Pedro Castillo predominou o caos, equipes técnicas que eram modificadas a cada semana e o amadorismo eleitoral foi evidenciado na desconexão das mensagens até o seu eleitorado.
No entanto, Castillo conseguiu manter os níveis de apoio altos porque, apesar de suas debilidades, conseguiu continuar representando os “perdedores” peruanos dos últimos trinta anos do modelo de mercado do país. Esse eleitorado que predomina na zona andina peruana se conectou com um professor de escola rural que rebate o establishment, apesar de não ter oferecido certezas e nem um objetivo convincente.
Foi o discreto encanto do outsider anti-sistema capitalizando o rancor de metade do país.
* É CIENTISTA POLÍTICO PERUANO