
19 de janeiro de 2012 | 10h10
CAIRO - A força do partido salafista Al Nour nas eleições legislativas que ainda estão sendo realizadas no Egito levantou incerteza sobre o modelo que a formação política islâmica defende para o turismo, uma das principais fontes de renda do país.
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Os salafistas propõem aplicar a "sharia" ou lei islâmica no turismo, o que parece apontar para uma segregação do setor entre os estrangeiros e os egípcios.
O porta-voz do partido Al Nour, Mohammed Noor, esclareceu que a aplicação da lei islâmica exige que haja praias particulares para os turistas, que não se misturariam com os egípcios, o que, segundo ele, requer um novo planejamento dos complexos turísticos do país.
"Queremos que o turista vá à praia, coma e beba o que quiser em privacidade", disse Noor.
No entanto, o porta-voz do partido Al Nour disse que "não vai ser permitido tudo nas praias", já que o visitante deve respeitar os costumes e as tradições do país muçulmano.
Para o salafista, o principal problema é a administração e o planejamento do setor turístico e não a proibição do álcool e do biquíni nas praias.
Entretanto, as declarações recentes de alguns xeques salafistas a favor da proibição do álcool e do uso do biquíni nas praias dispararam os alarmes no Ministério do Turismo.
O titular dessa pasta, Mounir Fakhry Abdel Nour, considera que essas manifestações contra o uso de biquínis ou o consumo de álcool são apenas "sandices", explicou em entrevista à Agência Efe na sede de seu Ministério.
"Nenhum Governo responsável pode tomar essas medidas", apontou o ministro, que liderou no último mês vários atos de protesto do setor turístico egípcio contra a adoção de decisões proibitivas desse tipo.
Na opinião do ministro, o principal desafio do turismo é a segurança: "quando a situação for estabilizada, a lei e a ordem restauradas, os visitantes voltarão", disse Abdel Nour, em referência à diminuição do número de turistas no último ano.
A diferença de pontos de vista provocou uma disputa entre os salafistas e o Ministério sobre quem deve representar o Egito na Feira Internacional de Turismo de Madri (Fitur), uma das mais importantes do setor no mundo.
Os islâmicos pretendem participar da delegação de seu país na Fitur, mas o Governo se nega categoricamente.
No fundo dessa disputa estão duas visões sobre como abordar a retomada do setor de turismo no Egito, que se viu afetado após a revolução que derrubou o presidente Hosni Mubarak há quase um ano e ao posterior clima de instabilidade.
Atualmente, apesar de ainda não ter sido divulgado os resultados finais das eleições à Câmara Baixa do Parlamento, que terminaram na quarta-feira, o Al Nour ficaria como segunda força, atrás da Irmandade Muçulmana, o que aponta para um Executivo de corte islâmica.
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