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Ásia impulsiona vacinação contra covid-19, e vários países já ultrapassam EUA

Avanço das nações mostra sucesso dos programas de imunização e dá esperança de um retorno à normalidade

Por Sui-Lee Wee e Damien Cave
Atualização:

CINGAPURA — Enquanto os EUA e a Europa intensificavam seus programas de vacinação contra a covid, os países asiáticos, outrora elogiada por sua resposta à pandemia, lutavam para que os seus decolassem. Agora, muitos desses retardatários estão acelerando, aumentando as esperanças de um retorno à normalidade em nações resignadas a repetidas quarentenas e restrições onerosas.

A reviravolta é tanto um testemunho do sucesso da região em garantir suprimentos e resolver problemas em seus programas quanto da hesitação à vacina e da oposição política nos Estados Unidos.

Trabalhadorrecebe segunda dose devacina contra a covid-19 no mosteiro Wat Nimmanoradee, em Bangkok. Foto: Adam Dean/The New York Times (arquivo)

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Coreia do Sul, Japão e Malásia até mesmo ultrapassaram os EUA na taxa de doses de vacinas aplicadas por 100 pessoas — um ritmo que parecia impensável no período de março a junho. Vários países deixaram para trás os Estados Unidos na vacinação total de suas populações ou estão em via de ultrapassá-lo, limitando a perniciosidade da variante Delta da covid.

Na Coreia do Sul, as autoridades disseram que as vacinas ajudaram a manter a maioria da população fora do hospital. Só cerca de 0,6% dos totalmente vacinadas que contraíram Covid teve um quadro grave da doença e cerca de 0,1% morreu, de acordo com dados coletados de maio a agosto pela Agência de Prevenção e Controle de Doenças da Coreia.

No Japão, os casos graves caíram pela metade no último mês, chegando a pouco mais de mil por dia. As hospitalizações despencaram de pouco mais de 230 mil no final de agosto para cerca de 31 mil na terça.

Em contraste com os Estados Unidos, as vacinas nunca foram um problema polarizador na região da Ásia-Pacífico.

Embora cada país tenha enfrentado seus próprios movimentos antivacina, eles têm sido relativamente pequenos. Essas iniciativas nunca se beneficiaram de um ecossistema — mídia simpatizante, grupos de defesa e políticos — que permitisse que a desinformação influenciasse a população.

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No geral, a maioria dos asiáticos confiava em seus governos para fazer a coisa certa e estava disposta a colocar as necessidades da comunidade acima de suas liberdades individuais.

Reuben Ng, professor da Escola de Políticas Públicas Lee Kuan Yew da Universidade Nacional de Cingapura, que estudou a resistência à vacinação globalmente na última década, disse que, antes da covid, a discussão sobre imunização sempre foi variada na Ásia por causa de algum ceticismo sobre sua segurança. Mas Ng e sua equipe, que têm analisado relatos da mídia, descobriram que as opiniões na região sobre a vacina são em sua maioria positivas.

Pessoas em nações mais pobres, cujas vidas foram afetadas por longos confinamentos, sentiram que não tinham escolha a não ser se vacinar. A Indonésia e as Filipinas são o lar de milhares de trabalhadores que recebem por dia e que não podem contar com o seguro-desemprego para sobreviver.

Arisman, de 35 anos, um mototaxista em Jacarta, capital da Indonésia, disse que recebeu sua segunda dose da vacina chinesa Sinovac em julho porque seu trabalho requer contato com muitas pessoas.

Um profissional de saúde examina um kit de teste rápido contra o coronavírus em Cingapura. Foto: REUTERS/Edgar Su

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“Se eu adoecer, não recebo dinheiro”, disse Arisman, que, como muitos indonésios, não tem sobrenome. “Se não trabalho, não ganho dinheiro.”

A falta de redes de proteção social em muitos países asiáticos motivou diversos governos a distribuir as vacinas rapidamente, disse Tikki Pangestu, copresidente da Coalizão de Imunização da Ásia-Pacífico, um grupo que avalia a preparação das vacinas contra a covid.

Quando o surto da Delta surgiu, menos de 25% dos australianos com mais de 16 anos haviam recebido uma única dose. Agora, no estado de New South Wales, que inclui Sydney, 86% da população adulta já receberam a primeira dose e 62% dos adultos estão totalmente vacinados. O país espera imunizar totalmente 80% de sua população com mais de 16 anos até o início de novembro.

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“Houve pessoas de todo o espectro político que vieram apoiar a vacinação”, disse Greg Dore, um especialista em doenças infecciosas da Universidade de New South Wales. “Isso realmente nos ajudou a reverter o nível de hesitação que existia.”

Na Coreia do Sul, as autoridades abrandaram as restrições em agosto às reuniões privadas para pessoas totalmente vacinadas, permitindo que se reunissem em grupos maiores, ao mesmo tempo em que as mantinham para outros cidadãos. Cingapura, que já vacinou 82% de sua população, também anunciou medidas semelhantes.

Ng e sua equipe descobriram recentemente que um grupo de idosos que morava sozinho estava preocupado com os possíveis efeitos adversos da vacina, temendo morrer na solidão. Os voluntários prometeram visitá-los depois de eles tomarem as vacinas — e a estratégia funcionou.

“Essa abordagem direcionada faz a diferença, porque, no fim das contas, a campanha de comunicação de massa só pode levar você até certo ponto”, disse Ng.

Segundo Takashi Nakano, professor de doenças infecciosas na Escola Médica Kawasaki, no Japão, as pessoas "normalmente hesitam, não ficam muito entusiasmadas" com vacinas. No entanto, um motivo maior impulsionou a população a se imunizar.

“Havia um forte compromisso político, um sentimento real na nação de que, por se tratar de uma doença infecciosa, precisamos tomar medidas para evitá-la.”

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