GENEBRA - O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, tem sofrido tortura psicológica a partir de uma campanha de difamação e não deve ser extraditado para os Estados Unidos, onde enfrentaria um "julgamento político espetacularizado", disse um investigador de direitos humanos da ONU nesta sexta-feira, 31.
Nils Melzer, relator especial das Nações Unidas sobre tortura que visitou Assange em uma prisão de alta segurança em Londres no dia 9 de maio junto a dois especialistas médicos, disse que o encontrou agitado, sob estresse severo e incapaz de lidar com seu caso legal.
"Nossa descoberta foi que o sr. Assange mostra todos os sintomas de uma pessoa que foi exposta a tortura psicológica por um período prolongado de tempo. O psiquiatra que acompanhou minha missão disse que seu estado de saúde era grave", afirmou Melzer durante entrevista em Genebra. "Mas meu entendimento é que ele agora já foi hospitalizado e não pode ser julgado."
Assange estava doente demais para se apresentar por videoconferência a uma audiência na quinta-feira sobre um pedido de extradição para os EUA, disse o advogado dele, Gareth Peirce. No momento, o fundador do WikiLeaks está em uma enfermaria.
"O sr. Assange foi deliberadamente exposto, por um longo período de diversos anos, a modos progressivamente severos de tratamento ou punição cruel, desumana e degradante. Os efeitos cumulativos disso só podem ser descritos como tortura psicológica", afirmou Melzer em um comunicado.
Professor de Direito nascido na Suíça, o investigador da ONU se recusou a identificar juízes ou políticos os quais acusou de difamar Assange, afirmando que "dezenas, se não centenas de indivíduos", se expressaram inadequadamente.
"Não estamos falando aqui sobre processo, mas de perseguição. Isso significa que o poder judicial, instituições e processos estão sendo deliberadamente abusados por motivos ocultos", acrescentou.
O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Jeremy Hunt, disse no Twitter, após a declaração de Melzer, que "isso está errado". "Assange escolheu se esconder na embaixada e sempre esteve livre para ir embora e enfrentar a Justiça", ressaltou ele. "O relator especial da ONU deve permitir a tribunais britânicos fazer os próprios julgamentos sem sua interferência ou acusações inflamatórias." / Reuters