Assassinato evidencia tensão nos Bálcãs

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Por Agencia Estado
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O assassinato de primeiro-ministro da Sérvia, Zoran Djindjic, ocorrido hoje em Belgrado, acabou se tornando, de forma trágica, o melhor exemplo para um relatório que a ONU acaba de preparar. As Nações Unidas concluem que a situação nos Balcãs é ainda muito tensa para ser esquecida pela comunidade internacional, e pede que investimentos estrangeiros sejam feitos para garantir a estabilidade dos regimes da região. Djindjic era conhecido por sua política pró-ocidental e por ter entregue o ex-ditador Slobodan Milosevic ao Tribunal de Haia, em troca de uma ajuda externa de US$ 1,2 bilhão. O número de inimigos do premier e de sua tentativa de instaurar a democracia, portanto, não era pequeno. De fato, o alto comissário da ONU para Direitos Humanos, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, afirmou hoje que o ataque contra o premier representou um ataque contra o processo de reforma democrática na Sérvia. Vieira de Mello pediu que o assassinato sirva de alerta para que o país crie uma democracia estável. Na avaliação da ONU, o problema é que não é apenas a Sérvia sofre com a instabilidade. No Kosovo, as minorias étnicas ainda não conseguem ter acesso a serviços como educação e saúde. Além disso, a segurança dos sérvios não está garantida, diante da existência de uma população albanesa que é maioria. Para deixar a situação ainda mais complicada, o mandato da ONU para administrar o Kosovo termina neste ano. A partir de 2004, serão os próprios kosovares que terão que encontrar uma forma pacífica de governar a província. Mas no relatório preparado nesta semana pela ONU, a recomendação é de que pelo menos 3 mil soldados internacionais sejam mantidos no Kosovo. Na Bósnia, a situação não é muito diferente. Cerca de 18 mil soldados da Otan guardam as fronteiras do país e patrulham as ruas das principais cidades para tentar manter a paz entre as comunidades cristã-croata, bósnia-muçulmana e sérvia. Para muitos, uma guerra seria retomada em menos de uma semana, caso as tropas internacionais deixem a Bósnia. A impunidade é outro problema nos Balcãs, mesmo com a existência de um tribunal em Haia. Cálculos dos militares da Otan apontam a existência de mil criminosos de guerra ainda soltos na região, alguns deles protegidos por exércitos. Enfim, depois de mais de dez anos da fragmentação da Iugoslávia e mais de 250 mil mortos, existem poucos sinais de que os novos países estejam conseguindo construir nações estáveis. A cidade de Mostar, na Federação Bósnia, é um exemplo das divisões que permanecem na sociedade. A cidade foi praticamente destruída no enfrentamento entre os bósnios e sérvios. A solução foi colocar cada um dos grupos étnicos em lados opostos da mesma cidade, separados por soldados da Otan. Para garantir que os direitos de cada comunidade seriam respeitados, foram criadas duas prefeituras em Mostar, uma formada por uma burocracia sérvia e outra por funcionários bósnios. A idéia era de que, pouco a pouco, as comunidades fossem se reintegrando. Até agora, porém, poucos se atrevem a cruzar a linha que separa a cidade ao meio.

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