Assessor é autor de argumentos que redefinem tortura

Leal escudeiro de Bush estabeleceu bases para burlar leis internacionais

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Por Michael Fletcher e Jeffrey Smith
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Alberto Gonzales chegou a Washington pelas mãos do presidente George W. Bush, em 2001, e distinguiu-se por sua natureza inabalável e sua firme lealdade ao chefe. Sempre disposto a interpretar a lei de acordo com a conveniência, Gonzales foi um dos confidentes mais próximos do presidente. Como conselheiro da Casa Branca, e depois como secretário de Justiça, endossou o arcabouço legal que orientou a guerra ao terrorismo. Mas se Gonzales prestou bons serviços a Bush, a recíproca foi verdadeira: com a ajuda do presidente, Gonzales ascendeu ao topo do establishment jurídico e tornou-se o mais influente funcionário hispânico da história dos EUA. Contudo, durante seis anos, Gonzales foi incapaz de ampliar sua base de apoio e sucumbiu aos ataques dos congressistas, republicanos e democratas, que denunciaram sua participação na demissão de nove procuradores federais no ano passado. Os conservadores sempre foram cautelosos com Gonzales por causa de suas posições moderadas sobre aborto e ação afirmativa. Os liberais, por sua vez, duvidaram dele por conta de seu papel nos memorandos que permitiram a tortura de suspeitos de terrorismo e criaram a atmosfera de abusos na prisão de Abu Ghraib, no Iraque. Descrito por amigos como reservado, Gonzales agia discretamente. "Como personalidade, ele exibe uma calma de agente funerário", disse Bill Minutaglio, autor de The President?s Counselor, uma biografia de Gonzales. Filho de imigrantes, Gonzales conseguiu se formar no colegial vendendo refrigerante nos jogos de futebol americano da Universidade Rice, em Houston. Depois, formou-se em Direito em Harvard e foi recrutado por um poderoso escritório de advocacia do Texas. Tornou-se consultor do então governador Bush, em 1995, antes de tornar-se secretário de Estado do Texas e ser nomeado por Bush para a Suprema Corte estadual, em 1999. Como conselheiro da Casa Branca, a partir de 2001, cercou-se de advogados brilhantes e conservadores que subscreveram as teorias legais que aumentaram o poder presidencial. Foi seu nome que apareceu assinando a maioria dos documentos secretos que justificaram um tratamento duro da CIA e do Departamento de Defesa aos americanos detidos suspeitos de terrorismo. Dois meses depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, Gonzales elaborou uma lei para autorizar que detidos no campo de batalha fossem julgados por tribunais militares, e não civis. No fim de junho de 2007, a Suprema Corte considerou esse procedimento ilegal. Como secretário de Justiça, desde 2005, Gonzales continuou a ser um fiel defensor das políticas da Casa Branca. Entre seus últimos atos, questionou a confiabilidade dos relatos do FBI sobre interrogatórios abusivos em Guantánamo e defendeu a prática de "rendição extraordinária", processo pelo qual os EUA transferem pessoas presas na guerra ao terror para outras nações onde eles correm risco de tortura.

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