
16 de janeiro de 2009 | 10h17
O Zimbábue introduzirá a nota de 100 trilhões de dólares zimbabuanos, na mais recente tentativa de lidar com a hiperinflação que deixou a outrora vibrante economia em ruínas, anunciou a mídia estatal nesta sexta-feira, 16. A nova cédula valerá inicialmente algo como US$ 300, ao câmbio desta quinta-feira no mercado negro, onde a maioria das conversões agora ocorrem. Porém o dinheiro local se desvaloriza dramaticamente a cada dia. A inflação no Zimbábue no país a 231.000.000% em julho do ano passado, quando foi feito o último relatório oficial, mas, desde então, os analistas calculam que multiplicou até números difíceis de calcular. O Banco Central do Zimbábue também está introduzindo outras notas na casa dos trilhões, de 10, 20 e 50, informou o jornal estatal Herald. Na semana passada, o banco colocou no mercado as cédulas de bilhões de dólares zimbabuanos, com o mesmo objetivo. Porém esses valores foram rapidamente desvalorizados, em meio à crise. A última estimativa oficial afirma que a inflação anual era de 231 milhões por cento em julho, porém especialistas de outros países afirmam que ela é muito superior a isso. Quando o líder do Zimbábue, Robert Mugabe, tomou o poder em 1980, após a independência do Reino Unido, a moeda local valia quase o mesmo que a libra britânica. Com a moeda local em queda livre, todo mundo - do vendedor de verduras aos fornecedores de serviço para celular - atrela suas vendas a moedas estrangeiras, para se prevenir contra perdas. O Banco Central licenciou pelo menos mil lojas para vender bens em moeda estrangeira, em uma medida para ajudar os negócios, que sofrem também com a falta crônica de moeda estrangeira para importar bens. Outras lojas e fornecedores de serviços seguiram a iniciativa, apesar de não terem autorização do governo. Há ameaças das autoridades bancárias de que pode haver prisões e processos caso isso continue ocorrendo. Aproximadamente 80% da população do Zimbábue vive na pobreza. A crise deixou o sistema de saúde do país destroçado, com médicos e enfermeiras que trabalham para o governo em uma greve indefinida por melhores salários, após a hiperinflação transformar seus salários em esmolas. Muitos professores deixaram as escolas para tentar ganhar mais dinheiro de outra forma. O caos na infraestrutura nacional abriu espaço para uma epidemia de cólera, que já matou pelo menos 2 201 pessoas por todo o país, informaram as Nações Unidas nesta sexta-feira. Segundo a ONU, são registrados mais de 40 mil novos casos por dia e a epidemia da doença não está sob controle. A falta de água potável e de higiene leva muitos doentes a desenvolverem novamente a doença, após tratamento. Além disso, muitas pessoas morrem em casa e as autoridades não são notificadas. Os zimbabuanos sofrem ainda com a falta de comida. O Programa Mundial de Alimentação da ONU afirma que cinco milhões de pessoas - em uma população de pouco mais de 11 milhões - precisam de auxílio para ter o que comer. A crise mostra poucos sinais de que pode melhorar, enquanto o governo vive um impasse após as acirradas eleições do ano passado. Mugabe e o líder oposicionista Morgan Tsvangirai firmaram um acordo para divisão do poder há quatro meses, mas até agora não decidiram como dividir os postos do gabinete.
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