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Ataque ao Capitólio expõe rede global de extrema direita

Movimentos radicais que se espalham em diferentes realidades políticas pelas redes sociais preocupam autoridades de todo o mundo

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Por Redação
Atualização:

Sem uma liderança específica, mas unidos pela ideologia racista impulsionada pelas mídias sociais, adeptos da extrema direita construíram uma rede de conexões reais e online que preocupa autoridades em diferentes países. Quando ocorreu a invasão no Capitólio em Washington, em 6 de janeiro, radicais de extrema direita do outro lado do Atlântico celebraram.

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Jürgen Elsässer, editor da revista de extrema direita mais proeminente da Alemanha, assistiu ao vivo o ataque. “Estávamos acompanhando como uma partida de futebol”, disse. Quatro meses antes, Elsässer havia participado de uma passeata em Berlim onde uma multidão de manifestantes tentou, mas não conseguiu entrar à força no prédio que abriga o Parlamento alemão. “Eles realmente conseguiram criar esperanças de que haja um plano”, disse. “Ficou claro que isso era algo maior.”

Os adeptos dos movimentos racistas de extrema direita em todo o mundo compartilham mais do que uma causa comum. Extremistas alemães viajaram para os EUA para competições de atiradores. Os neonazistas americanos visitaram colegas na Europa. Militantes de diferentes países se unem em campos de treinamento da Rússia e Ucrânia à África do Sul. 

Por anos, adeptos da extrema direita compartilharam teses ideológica e se inspiraram em encontros secretos em zonas pouco conhecidas da internet. A diferença é que não havia até agora um ato concreto de violência como no Capitólio.

Apoiadores de Trump tomaram o Capitólio no dia 6 de janeiro em sinal de que Biden assume a presidência em país apartado Foto: AP/JOHN MINCHILLO

Em conversas online, muitos viram a invasão como um momento de ensinamento – sobre como seguir em frente e perseguir o objetivo de derrubar governos democráticos de uma maneira mais concreta. 

“Extremistas, céticos do coronavírus e neonazistas estão inquietos”, afirmou Stephan Kramer, chefe de inteligência doméstica do Estado da Turíngia, no leste da Alemanha. Há uma mistura perigosa de euforia pelos desordeiros que chegaram tão longe e frustração por não ter levado a uma guerra civil ou golpe, disse ele. 

Ainda é difícil mensurara o quanto os vínculos entre <IP9,0,0>extrema direita americana e seus pares europeus podem ser profundos e duráveis. No entanto, as autoridades estão cada vez mais preocupadas com uma rede de ligações internacionais difusas e temem que essas conexões, já encorajadas na era Donald Trump, tenham se tornado mais determinadas desde a invasão do Parlamentos dos EUA.

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Um relatório recente encomendado pelo Ministério das Relações Exteriores alemão descreve “um novo movimento de extrema direita violento, transnacional, sem liderança e apocalíptico” que surgiu na última década.

Os extremistas são alimentados pelas mesmas teorias de conspiração e narrativas de “genocídio branco” e “a grande substituição” das populações europeias por imigrantes, concluiu o relatório. Estão nos mesmos espaços online e se encontram em festivais de música com bandas que têm letras que enaltecem a supremacia branca e a extrema direita. “As cenas neonazistas são bem conectadas”, disse Kramer. “Não estamos falando apenas de curtidas no Facebook. Estamos falando de neonazistas viajando, se encontrando, celebrando juntos.”

Em 2019, o diretor do FBI, Christopher Wray, alertou que os supremacistas brancos americanos estavam viajando para o exterior para treinar com grupos nacionalistas estrangeiros.

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Mas as ligações transnacionais podem ser mais inspiradoras do que organizacionais, disse Miro Dittrich, especialista em redes radicais de extrema direita. “Não é tanto forjar um plano concreto, mas sim criar um potencial violento.” E há divisão entre os seguidores de extrema direita sobre se essas alianças são valiosas ou viáveis. Para muitos, a ideia de um movimento nacionalista internacional é não é coerente com os seus ideais. 

“Há um sentimento comum e uma troca de ideias, memes e logotipos”, disse Martin Sellner, ativista austríaco de extrema direita do movimento Geração Identidade. “Mas os campos políticos na Europa e na América são muito diferentes.” 

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