Ataque biológico pode ser o próximo passo do terrorismo

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Por Agencia Estado
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Da mesma maneira que os serviços de informação dos países industrializados tinham obrigação de considerar a hipótese de um atentado suicida com um avião - pois um plano já havia malogrado em 1994 quando terroristas argelinos planejaram lançar um avião seqüestrado da Air France sobre Paris -, ninguém mais pode ignorar a ameaça de um atentado biológico, químico, nuclear ou bacteriológico. Há um consenso entre os serviços secretos e de segurança ocidentais, segundo o qual esse tipo de terrorismo constitui o problema mais grave do século 21. A ameaça mais próxima constitui a arma bacteriológica, conhecida como "a bomba atômica dos pobres", já controlada por diversos grupos terroristas e isso graças à ajuda de algumas antigas repúblicas do império soviético. Apenas alguns gramas de toxinas botúlicas, moléculas que atacam o sistema nervoso, habilmente dispersadas por uma simples bomba de aerossol, poderiam provocar a morte de milhares e mesmo milhões de pessoas. Os atentados praticados nos EUA demonstraram que existem pessoas com disposição suficiente de utilizar essa arma terrível. Não há nenhuma vacina contra esses agentes patogênicos, cultivados em laboratórios de uns 12 países, entre eles a Coréia do Norte e o Iraque de Saddam Hussein, apesar dos controles exercidos até há muito pouco tempo pelas Nações Unidas. Esses agentes são altamente poderosos e podem matar entre 40% e 100% da população contagiada, a exemplo das vítimas de varíola, da peste e da febre de Lhassa. Hoje, as vendas de produtos que permitem chegar a essa arma são estritamente controladas em países da União Européia, nos EUA e na Austrália, mas não há grandes problemas para se reunir o material necessário para sua fabricação em outros países. Até hoje, a convenção internacional de 1972 sobre as armas biológicas permanece letra morta, apesar de ter sido ratificada por países como o Iraque e Rússia, suspeitos de terem violado regularmente esses compromissos internacionais. O controle é exercido com grande dificuldade, pois mesmo os EUA rejeitaram um aperfeiçoamento do texto da convenção alegando interesses da indústria farmacêutica americana. A ameaça de uma bomba nuclear é bem menor, pois para fabricá-la são necessários um mínimo de 15 quilos de urânio enriquecido, algo mais difícil de reunir, segundo afirma Bernard Adam, do Grupo de Reflexão e Informação sobre a Paz. A maior parte do tráfico existente diz respeito a urânio pobremente enriquecido e poucas gramas de urânio 235. O transporte desse material é também muito mais delicado e controlado. Mas o que não pode ser descartada é a possibilidade de os terroristas lançarem um avião sobre uma usina nuclear. Segundo Phillipe Jamet, do Instituto de Proteção da Segurança Nuclear, as centrais nucleares francesas foram concebidas para resistir ao impacto de um pequeno jato executivo, do tipo Lear Jet, mas não de um Boeing ou um Airbus. Até agora, nenhum atentado biológico foi praticado, pois os grupos terroristas sabem que poderiam quebrar um tabu, expondo-se a todas as formas de represália nuclear. Por enquanto, eles se contentam em lançar aviões contra o World Trade Center e o Pentágono, obtendo enorme repercussão mundial, mas após essa ousada iniciativa, ninguém mais pode subestimar o próximo passo, que poderá ser o uso da arma bacteriológica.

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