Ataque bolivariano a Macri une jornais rivais

Diários de linhas políticas distintas criticaram acusação infundada de chanceler de Maduro ao presidente no Paraguai

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Por Rodrigo Cavalheiro
Atualização:

A acusação infundada da chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, de que o presidente argentino, Mauricio Macri, havia mandado soltar torturadores da última ditadura (1976 -1983) em seus primeiros dias de mandato aproximou a cobertura de meios de comunicação antagônicos durante os 12 anos de kirchnerismo.

A declaração da diplomata foi feita no encerramento da 49.ª Cúpula do Mercosul em Assunção, na segunda-feira, depois de Macri pedir a libertação de presos políticos ao presidente Nicolás Maduro, que cancelou sua participação no evento na noite de domingo.

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Meios alinhados ao kirchnerismo, como os jornais Página 12 e o financeiro Ámbito, críticos às medidas de abertura econômica promovidas por Macri desde o dia 10, quando assumiu, apontaram nesta terça-feira, 22, erro na informação venezuelana. O Página 12 classificou a declaração primeiro como imprecisa e logo salientou que essa liberação não ocorreu, em um texto intitulado A briga que Macri buscou

A publicação avaliou que o presidente tinha alcançado seu objetivo de não passar despercebido em sua primeira cúpula regional e marcou uma reviravolta na política exterior em relação a Caracas como forma de posicionar-se internacionalmente, “principalmente como um gesto à Casa Branca”. O Ámbito, pertencente ao grupo Indalo, do empresário kirchnerista Critóbal López, qualificou como “mancada” a acusação da venezuelana ao argentino. “Um dos seus primeiros anúncios foi a libertação de responsáveis por tortura, desaparições e assassinatos durante a ditadura”, disse Delcy.

Entre os meios que se mantiveram críticos durante o período kirchnerista, o Clarín qualificou a frase de absurda. O jornal pertence ao maior grupo de comunicação do país, que Cristina Kirchner tentou desmembrar por meio da Lei de Mídia. O La Nación, outro jornal considerado um inimigo pelo kirchnerismo, destacou que o pedido de Macri foi também uma satisfação a seu eleitor. Durante a campanha, o presidente prometeu que solicitaria a suspensão da Venezuela do bloco caso Maduro não liberasse presos políticos como Leopoldo López, condenado a 13 anos e 9 meses de prisão por incitação à violência. 

O argentino recuou nessa intenção após o governo venezuelano reconhecer a vitória da oposição na eleição do dia 6, mas levou sua cobrança à cúpula. “Quero pedir, aqui diante de todos os presidentes, dos Estados-membros e associados do Mercosul, a rápida libertação dos presos políticos na Venezuela”, disse Macri antes da venezuelana na reunião de cúpula em Assunção. “Nos Estados-membros, não pode haver lugar para a perseguição política por razões ideológicas, nem a privação ilegítima da liberdade por pensar distinto.”

Também no La Nación, o colunista Fernando Laborda publicou o texto Macri crucificou Cristo?, referindo-se a uma brincadeira nas redes sociais com acusações absurdas contra o presidente. Depois de afirmar que Macri “chutou o tabuleiro regional”, Laborda opinou que Caracas, ao acusar a Argentina de interferir em sua soberania, “usa uma tática de países que desejam esconder violações”. A Venezuela assinou duas medidas redigidas sob consenso na cúpula do Mercosul para aumentar proteção a direitos humanos na região, sem mencionar um país ou presos políticos. 

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