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Ataque de drone americano matou 10 pessoas da mesma família, incluindo 7 crianças, dizem parentes

Relatos de familiares e vizinhos apontam que alvo americano - identificado pelos EUA como carro-bomba do ISIS-K -, na verdade seria o veículo de um funcionário de uma organização humanitária; aliado dos militares americanos também morreu

Por Matthieu Aikins
Atualização:

Horas depois de um ataque de drones militares dos Estados Unidos em Cabul no domingo, 29, funcionários do Departamento de Defesa afirmaram que ele explodiu um veículo carregado com explosivos, eliminando uma ameaça ao aeroporto de Cabul do grupo do Estado Islâmico Khorasan (ISIS-K).

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Mas na casa de uma família de Cabul, nesta segunda-feira, 30, sobreviventes e vizinhos disseram que o ataque matou 10 pessoas, incluindo sete crianças, um trabalhador de uma organização humanitária americana e uma pessoa contratada pelas forças armadas dos EUA.

Zemari Ahmadi, que trabalhava para a organização de caridade Nutrition and Education International, estava voltando do trabalho para casa depois de dar carona para colegas na noite do domingo, segundo parentes e colegas entrevistados em Cabul.

Samia Ahmadi (à direita) perdeu o pai e o noivo durante o ataque de um drone americano em Cabul. Foto: Jim Huylebroek/The New York Times

Quando ele entrou na rua estreita onde morava com seus três irmãos e suas famílias, as crianças da casa, vendo seu Toyota Corolla branco, correram para fora para cumprimentá-lo. Alguns subiram a bordo do carro ainda na rua, outros se reuniram enquanto ele estacionava o carro no pátio de sua casa.

Foi então, dizem, que o drone o atingiu.

O míssil atingiu a extremidade traseira do Corolla no estreito pátio dentro do complexo familiar murado, explodindo portas, quebrando janelas e espalhando estilhaços. Ahmadi e algumas das crianças foram mortos dentro de seu carro; outros foram mortalmente feridos em quartos adjacentes, disseram membros da família. Uma autoridade afegã confirmou que três das crianças mortas foram transferidas de ambulância no domingo.

A filha de Ahmadi, Samia, de 21 anos, estava lá dentro quando foi atingida pela onda de choque. "No início, pensei que fosse o Taleban", disse ela. "Mas os próprios americanos fizeram isso."

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Samia disse que cambaleou para fora, sufocando, e viu os corpos de seus irmãos e parentes. "Eu vi toda a cena", disse ela. "Havia pedaços de carne queimada por toda parte."

Entre os mortos estava seu noivo, Ahmad Naser, de 30 anos, um ex-oficial do Exército e contratado dos militares americanos que viera de Herat, no Oeste do Afeganistão, na esperança de ser retirado de Cabul.

Porta-voz do Comando Central dos EUA, o capitão Bill Urban disse no domingo que os militares realizaram um ataque com drones contra um veículo do Estado Islâmico Khorasan que planejava atacar o Aeroporto Internacional Hamid Karzai.

Na segunda-feira, Urban reafirmou uma declaração anterior de que os militares atingiram um alvo válido, um veículo carregado de explosivos. Ele também repetiu que os militares estavam investigando alegações sobre vítimas civis.

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Ahmadi era técnico de engenharia do escritório local da Nutrition and Education International, uma organização sem fins lucrativos americana com sede em Pasadena, Califórnia. Seus vizinhos e parentes insistiram que o engenheiro e seus familiares, muitos dos quais trabalharam para as forças de segurança afegãs, não tinha conexão com nenhum grupo terrorista.

Eles forneceram documentos relacionados ao longo vínculo de Ahmadi como empregado na instituição de caridade americana, bem como o pedido de Naser para um visto especial de imigrante, por seu serviço como guarda em Camp Lawton, em Herat.

"Ele era muito respeitado por seus colegas e compassivo para com os pobres e necessitados", disse Steven Kwon, o presidente do NEI, sobre Ahmadi, por e-mail. Ele escreveu que o engenheiro técnico recentemente "preparou e entregou refeições à base de soja para mulheres e crianças famintas em campos de refugiados locais em Cabul".

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