Ataque em Gaza deixa 14 palestinos mortos e 110 feridos

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Por Agencia Estado
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Soldados israelenses em busca de supostos militantes do Hamas atacaram um bairro de Gaza com tanques e helicópteros nesta segunda-feira, deixando 14 palestinos mortos, a maioria quando um míssil foi lançado contra uma multidão. Os palestinos dizem que os mortos eram civis, enquanto Israel alega que a maior parte era composta de militantes mortos em combate. A mais mortal operação israelense contra os palestinos em três meses gerou críticas internacionais, levantou questões sobre o real comprometimento do Exército na prevenção de mortes entre civis e ameaça solapar os mais recentes esforços para encerrar os mais de dois anos de conflito no Oriente Médio. O vice-ministro da Defesa de Israel, Weizman Shiri, disse lamentar a perda de vidas civis. "Mas o que podemos fazer? É guerra", comentou. Enquanto isso, outras cinco pessoas morreram em choques entre policiais palestinos e militantes do grupo islâmico Hamas. Cerca de 110 palestinos ficaram feridos na incursão de quatro horas. Destes, 25 estão em condições graves, informaram fontes hospitalares. A maior parte foi ferida por estilhaços de bombas e munições na cabeça, peito e abdome. Entre os 14 mortos, havia pessoas de 14 a 52 anos. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia ressaltou num comunicado que a operação, "em especial o uso de tanques e aviação numa região densamento povoada, foi claramente desproporcional". Javier Solana, comissário europeu de política externa atualmente em visita ao Oriente Médio, disse estar chocado com o número de mortos. "Penso que isto é muito mais dramático por causa dos esforços que o povo palestino vem fazendo nas últimas semanas para sair da trilha da violência", declarou. Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Richard Boucher, disse que o governo norte-americano está "profundamente incomodado" com a morte de civis ao mesmo tempo em que sublinhou o direito de Israel de se defender. O Exército israelense garante que Khan Younis é uma fortaleza do Hamas, grupo que assumiu a responsabilidade por atentados suicidas que deixaram centenas de mortos no lado israelense. Segundo os militares, um homem procurado foi detido com um artefato explosivo caseiro. No entanto, não havia indicação de um alvo específico, como em ataques israelenses anteriores que deixaram vítimas entre os civis. "Sempre que testemunhamos esforços para a retomada do processo de paz, como vem tentando o senhor Solana, o governo israelense age para conduzir esses crimes de guerra, pois o objetivo final do governo israelense é retomar a ocupação total" da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, denunciou o ministro palestino Saeb Erekat. Raanan Gissin, assessor do primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, disse que a culpa pelo alto número de mortes no ataque é dos militantes palestinos. "Tentamos fazer com que o número de vítimas civis seja o menor possível, mas não podemos dizer que deixaremos de agir contra terroristas porque há civis por perto", disse ele. No entanto, o parlamentar israelense Haim Ramon comentou que os resultados da operação levantam questões sobre os supostos esforços de Israel para evitar vítimas civis. O ataque começou pouco depois da meia-noite local, quando cerca de 40 tanques escoltado por helicópteros entraram nas principais vias da cidade. Soldados do Exército trocaram tiros com militantes armados. Na troca de tiros, duas pessoas morreram, inclusive uma mulher de 45 anos, disseram médicos. O míssil foi disparado contra um bairro densamente povoado, no momento em que os soldados do Exército israelense iniciavam sua retirada. O brigadeiro-general Yisrael Ziv, comandante do Exército na área, disse que os soldados encontraram "forte resistência" de militantes palestinos e que muitos homens armados reuniram-se nas ruas quando o Exército se retirava. "Eles atiraram muito e lançaram granadas. Havia um combate ali", disse. "O helicóptero mirou o grupo armado e o acertou." Relatos de testemunhas palestinas contradizem as informações israelenses. Wissam Abdeen, atingido por estilhaços no braço, disse que, quando os soldados se retiravam, as pessoas começaram a sair de casa para verificar os danos e não havia franco-atiradores entre essas pessoas. Outra testemunha, Walid Sabah, cujo filho de 17 anos morreu no ataque, disse que alguns homens armados estavam nas ruas, mas nenhum deles atirava naquele momento. Abdeen disse ter ouvido o som dos helicópteros quando os soldados começaram a sair. "Uma grande explosão me tirou do chão e me jogou a 10 metros de distância", garante. Ziv disse que o combate foi filmado por um avião não tripulado. O Exército não atendeu a uma solicitação da Associated Press para assistir à filmagem. Ziv disse ainda que nenhum dos palestinos mortos figurava na lista de procurados por Israel. A maior parte dos mortos e feridos - entre os quais havia crianças de nove anos - foram levados ao Hospital Nasser, em Gaza. Ali, quando mais de 500 pessoas estavam reunidas na entrada do necrotério, disparos de metralhadoras e fuzis de assalto israelenses atingiram o pátio do local. Ziv disse que o ataque foi uma resposta a um ataque de morteiro contra uma posição próxima. Nos hospital, duas explosões foram ouvidas antes do início dos disparos. As pessoas procuravam esconder-se atrás de árvores e muros para evitar os tiros. Um homem de 27 anos morreu e três ficaram feridos, inclusive um garoto de 14 anos, baleado no pescoço. Uma bala por pouco não acertou um repórter da Associated Press, que teve seu sapato atingido por um pequeno fragmento de bala. Os mortos, enrolados em bandeiras palestinas, foram retirados do hospital em macas e levados por homens armados que disparavam para o ar e juravam vingança. O Hamas ameaçou retaliar. "Todos devem saber que, se nosso povo não está seguro em Khan Younis, os israelenses também não estão seguros em Tel Aviv", disse Abdel Aziz Rantisi. "Atacaremos por todos os lados."

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