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Ataque faz Nova Zelândia rever leis sobre armas de fogo

País tem legislação mais permissiva que Austrália e polícia suspeita que facilidade tenha sido fator para escolha de local do massacre

Por Damien Cave e Matt Stevens
Atualização:

CHRISTCHURCH, NOVA ZELÂNDIA - O ataque às mesquitas de Christchurch provocou um debate sobre o endurecimento do comércio de armas na Nova Zelândia. As leis do país são muito frouxas quando comparadas às da Austrália. Brenton Tarrant, o atirador, é um australiano de 28 anos que havia se mudado recentemente para a Nova Zelândia.

Fuzis semiautomáticos utilizados por atirador na Nova Zelândia potencializaram a quantidade de mortos Foto: Social Media Website/Handout via REUTERS

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Uma das suspeitas da polícia é que a lei australiana, mais dura, seja um dos fatores que levaram o atirador a realizar o massacre em território neozelandês. “A Nova Zelândia parece com os EUA. O país não registra 96% de suas armas de fogo, as mais usadas neste tipo de crime”, disse Philip Alpers, do site GunPolicy.org . “Há enormes lacunas na lei. Se ele (Tarrant) foi para a Nova Zelândia para cometer esses crimes, pode-se supor que a facilidade de obter as armas tenha sido um fator.”

Em 1996, um atirador matou 35 pessoas em Port Arthur, na ilha australiana da Tasmânia. Desde então, a Austrália empreendeu um esforço gigantesco para livrar a sociedade da violência armada. Autoridades reforçaram as leis, restringiram o comércio de fuzis semiautomáticos e adotaram um programa de recompra que tirou mais de 650 mil armas de fogo das ruas. Nunca mais houve um assassinato em massa no país. 

O suposto atirador do ataque à mesquita em Christchurchtambém compartilhou uma foto de um colete àprova de balas no Twitter. Foto: Twitter/ Reuters

Na Nova Zelândia, as coisas são diferentes. Pistolas e fuzis semiautomáticos exigem licenças especiais e uma pessoa só pode comprar uma arma semiautomática por vez. “A polícia vai olhar muito desconfiada se você quiser comprar quatro ou cinco”, disse Alpers. Mesmo assim, segundo ele, nada impede que o sujeito monte um arsenal agindo sozinho ou usando terceiros como compradores. 

Hoje, qualquer pessoa com mais de 16 anos, que tenha porte de arma, pode manter em casa a quantidade que quiser de fuzis e pistolas sem um registro oficial do armamento. A maioria das armas em circulação pode ser vendida na internet ou por meio de anúncios em jornais e pode legalmente trocar de mãos de maneira privada sem a necessidade de haver documento da transação. 

Mesmo assim, a Nova Zelândia se mantinha a salvo de massacres como o desta sexta-feira. A última chacina do tipo foi em 1990, quando 13 pessoas morreram. Os policiais neozelandeses geralmente não carregam armas de fogo e assassinatos são raros no país. O número de vítimas de Christchurch é mais ou menos igual ao total de assassinatos em um ano no país todo. A contagem anual de homicídios com armas de fogo é ainda menor.

Curiosamente, a cultura de armas no país é parecida com a americana. Dos 3,9 milhões de neozelandeses em idade para ter uma arma, 238 mil (6%) têm porte, segundo o GunPolicy.org. Depois do massacre desta sexta, Alpers afirma que os deputados devem mudar a legislação. “Isto certamente mudará as coisas na Nova Zelândia”, disse. “Não consigo pensar em um país com maior probabilidade de alterar suas leis sobre comércio de armas depois de algo assim.”

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