Atentado deixa 98 militares mortos no Sri Lanka

Ataque foi atribuído à guerrilha Tâmil, grupo responsável por áreas no norte e leste do país; regiões administrativas devem ser divididas depois de 19 anos

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Por Agencia Estado
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Pelo menos 98 militares cingaleses morreram nesta segunda-feira e outros 150 ficaram feridos depois que um caminhão cheio de explosivos atingiu um comboio da Marinha, em um atentado cometido no nordeste do Sri Lanka e atribuído pelo Exército à guerrilha dos Tigres de Libertação da Pátria Tâmil (LTTE). Segundo declarações de fontes militares, o massacre provavelmente foi cometido pelo LTTE, grupo pioneiro na realização de atentados suicidas no país. Carregado de explosivos, o caminhão se chocou com um ônibus militar em um ponto de encontro habitual de comboios do Exército. A explosão danificou outros 13 ônibus estacionados no local, em Habarana, região nordeste do país. O atentado aconteceu no dia em que a Corte Suprema cingalesa decidiu, em um polêmico veredicto, dividir as áreas administrativas do norte e do leste do Sri Lanka sob controle do LTTE, que estiveram unidas desde 1987 após um acordo de paz. Os tâmeis defendiam sua união, enquanto os muçulmanos e os cingaleses, que são minoria nessas regiões, preferiam sua separação. Na época, o acordo reconhecia que as regiões "tinham sido áreas de povoamento histórico de maioria tâmil, que sempre quiseram viver neste território unido". Pouco antes da explosão, o mediador de paz japonês, Yasushi Akashi, se reunia em Colombo com o ministro designado para as negociações, Siripala da Silva, com o objetivo de avançar no processo de paz. Segundo fontes governamentais, Akashi reiterou a necessidade de ambos os lados respeitarem o cessar-fogo, o que, na sua opinião, representaria um avanço em direção à paz. Negociações A previsão é de que o Governo do Sri Lanka e os tâmeis retomem o diálogo no dia 28, em Genebra, para estabelecer um contexto propício com vistas às negociações. O mediador de paz enviado pela Noruega, Jon Hanssen Bauer, viajará ao país na terça-feira. Apesar dos esforços diplomáticos que incluem a rodada de negociações no final de outubro, o país tem vivido nas últimas semanas um recrudescimento da violência, o que poderia ser uma tentativa de ambas as partes de participar das conversas de paz na Suíça em uma posição de força negociadora. Na semana passada, o Exército lançou uma forte ofensiva na península de Jaffna, no norte, e enfrentou a resistência dos tâmeis. O combate deixou mais de 133 militares cingaleses mortos e cerca de mil feridos. No domingo, a Marinha cingalesa afundou um cargueiro de pesca que transportava armas para o LTTE. Quatro pessoas morreram na ação. Violência O atentado desta segunda-feira aconteceu no nordeste do país, em uma região que já tinha sido palco de conflitos nos últimos meses, quando as tropas governamentais conquistaram Sampur, zona fundamental para a proteção do porto militar da capital do distrito, Trincomalee. Em 2002, as autoridades de Colombo e os tâmeis assinaram um cessar-fogo que tem sido violado sistematicamente nos últimos meses com a escalada da violência no país. Apenas em 2006, duas mil pessoas morreram em diferentes incidentes. Antes do cessar-fogo de 2002, o Sri Lanka viveu uma guerra civil que durou 20 anos e deixou cerca de 65 mil mortos. Durante este conflito, o LTTE lutou por um Estado independente no norte e no sul do país, em resposta às reivindicações da etnia tâmil (que representa 18% da população) frente à maioria cingalesa, que deteve o poder político e militar após a independência do Sri Lanka.

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