12 de agosto de 2010 | 18h24
CARACAS- O atentado com um carro-bomba no centro financeiro de Bogotá que ocorreu nesta quinta-feira, 12, e atingiu a sede da rádio Caracol, uma das principais emissoras da Colômbia, é visto por analistas como uma mensagem para o novo presidente, Juan Manuel Santos, que vinha dando sinais de distensão tanto na política interna como na externa.
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Ainda que as autoridades suspeitem que o atentado seja de responsabilidade das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), a principal guerrilha do país, analistas políticos ouvidos pela BBC Brasil consideram que o ataque também pode ter sido orquestrado por grupos de extrema direita, como um sinal para que Santos radicalize sua postura logo no início do governo.
"A mensagem é para Santos, não contra a Caracol", afirmou a analista política Laura Gil, ao afirmar que "ou são as Farc tentando medir a reação do novo governo ou setores ilegais de extrema direita" que enviam uma mensagem para "que Santos volte a se uribizar", disse, em uma referência ao ex-presidente colombiano Álvaro Uribe.
Temor
O analista político Camilo González, diretor da organização não governamental Indepaz, concorda. Apesar das suspeitas apontarem imediatamente para as guerrilhas, a seu ver, o atentado pode ter sido provocado por grupos descontentes com o nível de distensão gerado por Santos nos primeiros dias de governo.
"O atentando pode ser uma advertência e um fato para gerar temores suficientes que justifiquem um discurso muito mais radical", afirmou.
"A rádio Caracol serviu como alvo, como alto-falante, para dar visibilidade à ação", acrescentou.
Em menos de uma semana à frente da presidência, Santos, que assumiu uma postura mais pragmática que seu antecessor Álvaro Uribe, disse que o diálogo com a guerrilha "não está fechado com chave", porém condicionou uma virtual negociação à libertação incondicional dos reféns em poder dos guerrilheiros e o fim de "atos terroristas".
Radicalização
Ainda na política interna, a distensão veio no primeiro dia de trabalho, quando Santos afirmou aos magistrados da Justiça que não contestará suas decisões - como fez Uribe ao longo de seu mandato.
Em seguida, o novo presidente restabeleceu relações diplomáticas com a Venezuela, dando fim a uma das piores crises da história entre os vizinhos.
O ex-candidato presidencial Gustavo Petro também vê no atentado uma intenção de pressionar o novo governo a um maior grau de radicalização.
"Atrevo-me a afirmar que a bomba tem um claro objetivo: levar o atual governo à postura do anterior", escreveu Petro em seu perfil no Twitter.
"Se nos deixamos manipular, continuarão colocando bombas", advertiu o ex-candidato, que tem dado sinais de aproximação com o governo Santos. "Exijamos a verdade na investigação, não mais manipulações", disse.
O ex-vice ministro de Justiça e analista político, Rafael Nieto, discorda da hipótese de que grupos paramilitares tenham a intenção de pressionar o governo, porque, a seu ver, "não existe a mínima possibilidade" de que ocorra um diálogo entre governo e guerrilhas a curto e médio prazo.
"Não há clima para que um grupo de extrema direita quisesse sabotar um processo que não existe", afirmou.
A seu ver, o atentado é parte da lógica da guerrilha de demonstrar força e capacidade de desestabilização para levar o governo à mesa de negociações.
"As Farc estão fazendo uma demonstração de força, mostrando ao governo colombiano que, ao contrário do que pensam, continuam sendo atores que podem desestabilizar e gerar perigo", afirmou Nieto.
"Isso (a desestabilização), a partir da ótica das Farc, deveria ser um incentivo para abrir canais de negociação".
Dias antes da posse de Santos, o líder máximo das Farc, Alfonso Cano, chamou o governo para "dialogar" sobre uma saída negociada para o conflito armado.
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