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Atentado em Bali reforça temores na Europa

Por Agencia Estado
Atualização:

A barbárie de Bali, por mais distante que seja, reforça os temores de que a Europa possa ser o próximo alvo dos matadores. Ontem e hoje, os ministros da Justiça e do Interior da Europa estão reunidos em Luxemburgo. Dentro de alguns dias, haverá a reunião da "força-tarefa" anti-terrorista criada no seio da Europol. Todas as informações dos serviços secretos, quer norte-americanos , quer europeus, prevêem um "grande golpe" na Alemanha, na França ou na Bélgica. Na França, porque é o país mais severo em relação ao islamismo terrorista; na Alemanha, porque é citada, juntamente com a França, nas mensagens lançadas pelo braço direito de Bin Laden; na Bélgica, por causa da concentração de instituições européias em Bruxelas. Fala-se também da Inglaterra, refúgio de muçulmanos radicais. E, naturalmente, cita-se a al-Qaeda, cita-se Bin Laden, etc. Ao mesmo tempo, sabemos muito bem que - Bin Laden ou não - o atentado contra Bali foi realizado talvez pela própria al-Qaeda, ou por um satélite da al-Qaeda, ou por qualquer outro grupo radical. Avalia-se a capacidade da rede al-Qaeda: uma miríade de grupos, que não se conhecem, pilotados por uma organização clandestina e orientados para tal ou qual alvo, aplicando uma estratégia terrível (o petroleiro francês - o alvo é o petróleo; Bali - o alvo é a indústria do lazer e das férias , etc.) Mas - seja ou não a al-Qaeda - a bomba está pronta para explodir : grupos desarticulados, que se ignoram mutuamente, estão presentes em toda a parte e podem atacar em qualquer lugar. Vem então à baila a questão de George W. Bush. O presidente norte-americano é muito pouco popular na França, onde é considerado como inepto e desajeitado, e onde recebe muitas flechadas. Se efetivamente Bush tem razão ao pensar que o terrorismo é o perigo maior de nosso tempo (e quem o ignoraria?), nós achamos que, com muita freqüência, o presidente norte-americano segue uma tática absurda. Le Figaro, embora muito próximo dos norte-americanos, escreve: "Bush vai buscar na matança de Bali novos argumentos para justificar sua cruzada e tentar obter a plena adesão de seus aliados para sua luta contra o terrorismo e , portanto, segundo sua lógica, contra o Iraque". O melhor cronista de rádio, Pierre Luc Seguillon, é ainda mais claro: "O detestável atentado de Bali deveria levar os ocidentais a refletir. Concentrar-se sobre Bagdá e o Iraque, quando o terrorismo não conhece nem fronteiras, nem nacionalidades, mas ataca tanto em Nova York quanto em Bali, ou em Dejerba, ou no Iemen, ou em Karachi, parece uma aberração". Na realidade, o perigo terrorista está em toda a parte. Neste sentido, observemos que os distúrbios islâmicos por ocasião das eleições no enorme Paquistão (120 milhões de habitantes) ameaçam desestabilizar um dos raros Estados muçulmanos aliados de Bush. Citemos finalmente Le Monde: "Os Estados Unidos estão errando o alvo com sua obsessão iraquiana. Esta obsessão parece provir de considerações alheias à luta contra o terrorismo: ambições estratégicas no Oriente Médio, preocupações com o petróleo, posicionamento no cenário político interno norte-americano". E o jornal acrescenta: "Não é absolutamente necessário ser um grande politólogo para prever, sem risco, o impacto que poderia ter uma campanha de bombardeios sobre o Iraque: um aumento, aos milhares, de novos militantes para a al-Qaeda e uma reativação do terrorismo. Portanto, é preciso não nos enganar".

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