Atentado faz 6 mortos e 50 feridos em Tel Aviv

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Por Agencia Estado
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Um palestino detonou explosivos atados a seu corpo num ônibus lotado em Tel Aviv nesta quinta-feira e deixou outros cinco mortos, além dele mesmo. Cerca de 50 pessoas ficaram feridas e Israel enviou tanques ao devastado quartel-general de Yasser Arafat em Ramallah, na Cisjordânia. Na Faixa de Gaza, dois palestinos foram assassinados por soldados israelenses durante uma breve incursão nas primeiras horas desta sexta-feira (dia 20, pelo horário local). Em Ramallah, tanques de guerra israelenses dispararam bombas contra o QG do líder palestino, e o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, reuniu todo o seu gabinete numa sessão emergencial. Uma declaração do gabinete ao fim da rara sessão atribuiu a Arafat, "que estabeleceu a coalizão do terror", a culpa pelo atentado. O comunicado informa que "decisões operacionais" foram aprovadas, mas não fornece detalhes sobre as mesmas. Há especulações sobre se a intenção é apenas enviar uma mensagem, confinar Arafat a seu QG ou até mesmo expulsar da Cisjordânia o líder palestino. Por meio de um comunicado, o Exército israelense informou estar "isolando a área que dá abrigo a cerca de 20 pessoas procuradas por ligações com o terrorismo". A Rádio Israel informou que o gabinete decidiu isolar Arafat em seu gabinete e exigiu a rendição de palestinos procurados presentes no local. Sharon resistiu aos pedidos pela expulsão do líder palestino. Segundo ele, tal medida causaria danos políticos ao Estado judeu. Soldados utilizaram alto-falantes para pedir a rendição dos palestinos procurados cercados no interior do QG de Arafat. Pelo menos um nome foi citado: o do comandante de segurança Tawfik Tirawi, garantiu uma fonte israelense. A Israel TV informou que um enorme buldôzer danificou alguns trailers estacionados no interior do complexo e que seriam utilizados por oficiais de segurança palestinos. Nabil Abu Rdeneh, conselheiro de Arafat, denunciou os israelenses por terem o líder palestino como alvo e pediu uma intervenção internacional para conter a incursão. "Arafat está bem, mas a situação no local é muito perigosa", comentou Rdeneh. Israel acusou Arafat pelo atentado desta quinta-feira e por ataques anteriores. Tel Aviv argumenta que o líder palestino nada faz para conter os atentados, apesar de condená-los publicamente. Os palestinos garantem que a reocupação israelense das principais cidades palestinas e os constantes ataques às forças de segurança da Autoridade Palestina (AP) tiraram das mãos de Arafat qualquer chance de conter militantes de grupos islâmicos extremistas. Uma declaração oficial da AP condenou o atentado de hoje e todo o tipo de ataque contra civis, sejam estes palestinos ou israelenses. O comunicado diz ainda que um atentado como este "dá ao governo de Sharon e seu Exército de ocupação pretexto para continuar matando". O ministro palestino Ghassan Khatib, por sua vez, atribuiu a onda de violência às rígidas ações militares israelenses na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, entre as quais se incluem os toques de recolher que confinam centenas de milhares de palestinos ao interior de suas residências e os subseqüentes ataques contra suspeitos de participar da militância. Segundo ele, Sharon provocou os ataques, pois suas forças tomaram o controle das principais cidades palestinas da Cisjordânia e impuseram rígidos toques de recolher. "Os civis estão pagando o preço pela política de Sharon", acusou. "O governo israelense precisa interromper sua estratégia de usar a força para atingir seus objetivos". Na Cidade de Gaza, já nas primeiras horas de sexta-feira, forças israelenses entraram numa área mista residencial e industrial e explodiram três pequenas metalúrgicas, denunciaram testemunhas. Dois palestinos - uma mulher de 25 anos e um homem de 35 - foram mortos por disparos israelenses, informaram fontes hospitalares. Casas próximas às metalúrgicas demolidas foram danificadas. Os militares israelenses começaram a se retirar à medida que a sexta-feira amanhecia. O Exército israelense não comentou o episódio. No passado, os israelenses destruíram metalúrgicas sob a alegação de que armas eram construídas nos locais. O atentado desta quinta-feira ocorreu após a morte de três israelenses numa série de ataques na terça-feira - inclusive um atentado suicida - que encerrou o mais longo período - um mês e meio - de relativa calma no Oriente Médio, fato que havia gerado esperanças de que a violência poderia estar cessando. No atentado desta quinta, o militante suicida detonou um artefato explosivo repleto de pregos em frente a um ônibus que fazia a Linha 4 em Tel Aviv. O motorista morreu e caiu sobre o volante. O veículo seguiu sem controle por cerca de 50 metros após a explosão. Passageiros pulavam pelas janelas estilhaçadas. "As pessoas gritavam: ´Tirem-nos daqui´", comentou uma testemunha, Herzl Ben-Moshe, que foi até o ônibus para tentar resgatar feridos. O explosão destruiu o veículo e estilhaçou suas janelas. Um homem com sangue em seu peito nu foi levado por paramédicos. Outro homem sentou-se na calçada e chorou. O ônibus explodiu na esquina das ruas Allemby e Rothschild, no centro da capital israelense, uma área mista que abriga residências, restaurantes chiques, botequins baratos e a Grande Sinagoga de Tel Aviv. Poucas horas após o atentado, tanques israelenses invadiram o QG de Arafat em Ramallah e abriram fogo com metralhadoras e bombas contra o prédio, já devastado num cerco anterior promovido pelos soldados israelenses. Dois agentes palestinos de segurança ficaram feridos, informaram fontes. A Israel TV informou que o gabinete decidiu reimpor uma quarentena ao líder palestino, limitando-o ao interior do prédio. Numa operação em abril, Arafat passou quase um mês e meio cercado em seu gabinete. A imprensa especula sobre a possibilidade de a ação ser a primeira fase de um plano mais amplo para expulsar Arafat - uma idéia defendida por ministros conservadores. Porém, uma decisão deste tipo inflamaria ainda mais a tensão no Oriente Médio. Nenhum grupo extremista assumiu a autoria do atentado desta quinta em Tel Aviv até o momento, apesar de a imprensa local ter noticiado reivindicações conflitantes do Hamas e da Jihad Islâmica. Em Washington, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, condenou o atentado. Numa mensagem às pessoas da região, ele disse: "Se vocês querem que as pessoas cresçam num mundo pacífico, todas as partes devem fazer o que for possível para rejeitar e conter a violência." Mais cedo, um menino palestino de 12 anos foi assassinado na cidade cisjordaniana de Ramallah quando desobedeceu a um toque de recolher imposto pelo Exército judeu para comprar cigarros para seu pai. Testemunhas disseram que ele foi assassinado pelos soldados israelenses. O Exército de Israel preferiu não comentar o assunto. Em Abu Dis, um bairro muçulmano nos arredores de Jerusalém, soldados israelenses demoliram as casas das famílias de dois palestinos suicidas que cometeram atentados em Jerusalém em 1º de dezembro de 2001 e causaram outras 11 mortes. Ao todo, 1.868 morreram no lado palestino e 617 no lado israelense desde o início da atual onda de violência, em 28 de setembro de 2000, quando o hoje premier Ariel Sharon visitou a Esplanada das Mesquitas, um local de Jerusalém sagrado para judeus e muçulmanos.

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