Atentados ampliam aprovação de Hollande

Pesquisa mostra crescimento de 21 pontos porcentuais na popularidade do presidente

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Por ANDREI NETTO , CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:

Os atentados de Paris há quase duas semanas fizeram explodir a popularidade do presidente da França, François Hollande, do primeiro-ministro, Manuel Valls, e do ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, que estiveram na primeira linha dos acontecimentos. De acordo com pesquisa divulgada ontem pelo instituto Ifop, o mais importante do país, Hollande ganhou 21 pontos de apoio, e agora chega a 40% de opiniões positivas. Valls ganhou 17 pontos porcentuais, chegando a 61% de apoio. A tendência já tinha sido mostrada no fim da semana passada pelos institutos de pesquisa TNS-Sofres e BVA. Ontem, uma nova sondagem realizada pelo instituto Ipsos para a revista Le Point indicou alta de 20 pontos, chegando a 38% de popularidade, números próximos aos do estudo do Ifop publicado pela revista Paris Match. Nos dois levantamentos, a conclusão é a mesma: até então considerado o presidente mais impopular desde 1958, Hollande deu um salto de popularidade superior ao do também socialista François Mitterrand, que em 1991 ampliou em 19 pontos sua popularidade, mas no intervalo de dois meses, graças à 1.ª Guerra do Golfo. Hollande ganha terreno mesmo entre eleitores e militantes da União por um Movimento Popular (UMP, centro-direita), partido presidido pelo ex-presidente Nicolas Sarkozy, e da Frente Nacional (FN, extrema direita), de Marine Le Pen. Suas chances de reeleição nas eleições presidenciais de maio de 2017 também cresceram, segundo o Ifop. Até dezembro, apenas 14% dos franceses desejavam a reeleição. Hoje são 23%, o que, em tese, deve colocá-lo em pé de igualdade com os opositores. Mas, segundo cientistas políticos ouvidos pelo Estado, ainda é cedo para julgar se o "Efeito Charlie Hebdo" e a nova popularidade são sustentáveis. "Hollande, Manuel Valls, Cazeneuve e até Sarkozy estão recebendo créditos pelo fato de terem adotado um discurso de união nacional diante da crise", entende Bruno Cautrès, especialista em opinião pública do Instituto de Estudos Políticos (Sciences Po). "Mas é preciso saber se os resultados da economia estarão à altura, e quais os próximos passos de Hollande." Para Stéphane Rozès, presidente da consultoria Conselho, Análise e Perspectivas (CAP), também de Paris, os líderes políticos estiveram à altura das expectativas da opinião pública. "O pós-atentado causou um movimento social que recaiu sobre o Executivo. Hollande, Valls e Cazeneuve se adaptaram bem, em uma postura de união nacional", entende Rozès. "Essa popularidade pode ser sustentável na condição que compreendam que a opinião pública quer deles uma posição à altura frente às pressões externas, que sejam sobre segurança, sobre a Europa ou sobre os mercados financeiros."Protestos. Mas enquanto o presidente recupera prestígio dentro de suas fronteiras, a França perde entre comunidades muçulmanas em diferentes países, que seguem protestando pela publicação da imagem de Maomé na capa histórica do jornal satírico Charlie Hebdo, a primeira após o ataque à redação que deixou 12 mortos no dia 7. A maior manifestação foi convocada em Grozny pelo presidente da república russa da Chechênia, Ramzan Kadyrov, e reuniu centenas de milhares de pessoas. "Protestos menores também ocorreram ontem na Faixa de Gaza, em Teerã, no Irã, no Afeganistão, no Paquistão e em Niamey, no Níger, onde dez pessoas já morreram nos protestos e sete locais de culto cristãos foram destruídos - incluindo igrejas protestantes fundadas por missionários brasileiros, de acordo com o jornal Folha de S.Paulo(mais informações na página A10). Na noite de ontem, Hollande reagiu à violência e aos protestos. "Não insultamos ninguém quando defendemos nossas ideias, quando proclamamos a liberdade", argumentou. "A França não dá lições a nenhum país, mas também não aceita nenhuma intolerância."

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