Atirador que atacou no Canadá queria viajar para combater na Síria, diz mãe

Atentado. Polícia conclui que Michael Zehaf-Bibeau agiu sozinho quando matou um soldado e invadiu o Parlamento, mas teve contato, no passado, com indivíduo investigado por terrorismo; criminoso havia solicitado passaporte para ir se juntar a jihadistas

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Por CLÁUDIA TREVISAN , CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:
Canadense presta homenagem ao soldado morto no Memorial da Guerra na capital Ottawa Foto: Cole Burston/EFE

O autor dos ataques que provocaram a morte de um soldado e troca de tiros dentro do Parlamento canadense na quarta-feira, Michael Zehaf-Bibeau, solicitou a emissão de um passaporte recentemente e pretendia viajar para a Síria, segundo informações dadas ontem à polícia de Ottawa por sua mãe, Susan Bibeau.

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Autoridades disseram que o pedido estava em análise e Zehaf-Bibeau não integrava a lista de 90 pessoas consideradas "viajantes perigosos" por terem manifestado o desejo de se unir a combatentes jihadistas no exterior.

A polícia não encontrou nenhum indício que vincule as ações de quarta-feira ao ataque contra dois soldados que ocorreu em Quebec na segunda-feira, apesar de ambos terem sido praticados por jovens que manifestaram simpatia pelo radicalismo islâmico.

Bob Paulson, comissário da Real Polícia Montada Canadense - a Polícia Federal do país -, disse ontem em entrevista coletiva que um e-mail de Zehaf-Bibeau foi encontrado no computador de um suspeito de atividades terroristas. Mas ele ressaltou que a polícia ainda investiga a natureza da relação entre ambos. "Ainda não sabemos o que isso significa", observou. "Pode ser uma ligação tênue ou algo diferente."

Paulson afirmou que Zehaf-Bibeau não teve seu passaporte anulado, como chegou a ser divulgado na quarta-feira pela imprensa canadense, e disse que as autoridades estavam analisando sua solicitação. "Havia uma investigação em andamento para determinar se ele receberia o passaporte."

Família. A mãe de Zehaf-Bibeau enviou uma declaração à Associated Press na qual disse ter encontrado o filho na semana passada pela primeira vez em cinco anos. Em entrevista à agência, ela afirmou que chorava pelas vítimas do ataque, mas não por seu filho. "(Ele) estava perdido e não se adaptava", disse nas declarações por escrito. "Eu estou com raiva do meu filho, eu não entendo e parte de mim quer odiá-lo nesse momento."

Zehaf-Bibeau permaneceu por cerca de dez dias antes do ataque em um abrigo para sem-teto no centro de Ottawa. O local fica nas proximidades do Parlamento e do Memorial Nacional de Guerra onde ele matou a tiros o soldado Nathan Cirillo, de 24 anos.

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Pessoas que conviveram com Zehaf-Bibeau nesse período disseram ao jornal Ottawa Citizen que ele se referia a supostos familiares líbios que estariam lutando no país de origem de seu pai, Bulgasem Zehaf, e manifestava posições críticas ao Canadá, onde nasceu.

Conversão. Recém-convertido ao islamismo, o atirador tem uma longa ficha criminal, com processos por uso de drogas, porte de armas, lesões corporais e roubo, segundo documentos judiciais obtidos pela Associated Press.

Relatos de moradores do abrigo indicam que Zehaf-Bibeau tinha um estado mental perturbado e dizia que ele deveria rezar cinco vezes por dia porque o mundo acabaria em breve.

No período em que ficou no abrigo, o atirador se aproximou de dois homens, com os quais conversava com frequência sobre o islamismo, de acordo com os relatos divulgados na imprensa canadense.

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O comissário Paulson disse ontem que não foram encontrados indícios de que moradores do abrigo tenham colaborado com os ataques de quarta-feira.

A polícia concluiu que Zehaf-Bibeau agiu sozinho quando atirou no soldado que guardava o Memorial Nacional de Guerra e entrou com um fuzil no edifício do Parlamento canadense, onde estava o primeiro-ministro do país, Stephen Harper. A ativista paquistanesa e prêmio Nobel da Paz Malala Yousafzai estava no país para uma homenagem, mas não na região atacada por Zehaf-Bibeau.

O criminoso trocou cerca de 30 tiros com os guardas do prédio, até ser morto por Kevin Vickers, o oficial responsável pela segurança do Parlamento e normalmente cumpre uma função cerimonial de declarar aberta cada sessão.

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Ontem, ele foi aplaudido de pé pelos parlamentares quando entrou no plenário vestindo as roupas tradicionais e carregando o cetro dourado que simboliza a autoridade da instituição.

Terror. Os ataques de quarta-feira provocaram pânico em Ottawa e desencadearam uma busca de dez horas por potenciais cúmplices de Zehaf-Bibeau.

Durante esse período, o centro da cidade foi isolado e funcionários do Parlamento orientados a permanecer trancados em suas salas.

O assassinato de dois soldados em um espaço de três dias levantou a suspeita de que o Canadá passou a ser alvo de radicais em razão de sua adesão à coalizão que bombardeia posições do Estado Islâmico na Síria e no Iraque.

Depois de o país ter anunciado sua decisão, no início do mês, um porta-voz da organização exortou seus combatentes a matarem cidadãos canadenses quando tivessem a oportunidade, independentemente de serem civis ou militares.

Na entrevista de ontem, Paulson e outros policiais afirmaram que um de seus principais desafios é entender o processo de radicalização de jovens no país. A identificação das razões que provocam a mudança são essenciais para definição de medidas que possam previr a radicalização e eventuais ataques, ressaltaram.

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