Ativista iraniana pede a Hillary fim de ameaças

Laureada em 2003, Shirin Ebadi diz que EUA precisam construir relação de confiança

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Por Jamil Chade
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Para a iraniana Shirin Ebadi, prêmio Nobel da Paz em 2003 por sua luta pelos direitos humanos no Irã, a próxima secretária de Estado americana, Hillary Clinton, terá de moderar seu discurso em relação a Teerã se quiser modificar a imagem dos Estados Unidos no Oriente Médio. Em entrevista ao Estado, Shirin mostrou-se cautelosa sobre o governo de Barak Obama. "Ainda é cedo para comemorar ou prever o que Obama fará em relação ao Irã e o restante do mundo", disse. Ela lembrou um episódio no qual, durante as primárias democratas, Hillary disse que se Teerã atacasse Israel haveria um duro contra-ataque. "Hillary terá de falar em diálogo e construção de confiança. Estamos cansados de ameaças." A ativista é contra o atual governo iraniano, do presidente Mahmud Ahmadinejad, mas diz que um confronto não seria bom para os iranianos. Ela defende que o Irã abandone seu programa nuclear, embora critique o impacto das sanções da ONU sobre o dia a dia dos iranianos. "A população também não quer uma bomba nuclear." Numa crítica ao governo de Ahmadinejad, Shirin denunciou ontem que autoridades "que se dizem muçulmanas" usam a religião para legitimar a opressão. Mas ela também alertou para o fato de que a luta contra o terror dos EUA "desrespeita muitas das bases dos direitos humanos". RECADO AO BRASIL Segundo Shirin, o Brasil não pode se aproximar do Irã apenas com objetivos comerciais. Ela pediu que o governo brasileiro trabalhe pela defesa dos direitos humanos e o avanço da democracia em seu país. No mês passado, Celso Amorim fez a primeira visita de um chanceler brasileiro ao Irã em mais de 20 anos e Ahmadinejad mencionou em seu discurso em Doha, há uma semana, a aproximação com o Brasil. O presidente iraniano poderá visitar o País no próximo ano. "Isolar o Irã não é a solução. Mas peço que o Brasil não limite seu diálogo ao setor econômico", pediu Shirin. "Os direitos humanos e a questão de democracia precisam ser debatidos." Seu temor é que o Brasil faça como outros países, que estão dispostos a aceitar o regime iraniano para garantir contratos no setor petrolífero.

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