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Atos contra Maduro retomam força e deixam 46 feridos na Venezuela

Um jovem identificado como ladrão foi imolado por opositores em Caracas; contém imagens fortes

Atualização:

CARACAS - Mais de 200 mil venezuelanos saíram às ruas no sábado, 20, para pedir a renúncia do presidente Nicolás Maduro. Os principais atos ocorreram no Estado de Táchira, na fronteira com a Colômbia, e em Caracas, onde 46 pessoas ficaram feridas, entre elas um jovem que seria um ladrão, incendiado por manifestantes. 

Na capital venezuelana, a polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar a multidão, que caminhava na direção do Ministério do Interior, no centro da cidade. "Havia, com certeza, 160 mil pessoas, e até mais", disse à AFP, Edinson Ferrer, dirigente da coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD).

Opositores ateiam fogo a rapaz em ato contra Maduro em Caracas Foto: AFP PHOTO / CARLOS BECERRA

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Uma multidão exibia cartazes com frases como "#Chega de ditadura!", "Eleições Já", em meio a barricadas armadas com troncos e pedras e um gigantesco tanque de metal, uma proteção das ações da polícia.

"Temos que permanecer nas ruas 50, ou mil dias a mais, o que for necessário até que Maduro aceite eleições, ou saia", defendeu o estudante Antonio Moreno, de 21 anos, que estava com um escudo de madeira improvisado com a palavra "resiste", para se proteger de eventuais bombas de gás.

O governo venezuelano acusou manifestantes opositores atearam fogo ao jovem , identificado como Orlando Figuera, de 21 anos. Ele está internado em um hospital do leste da capital com queimaduras de primeiro e segundo graus em 80% do corpo e feridas de arma branca, informou o Ministério do Interior e Justiça no Twitter. A Promotoria anunciou que abriu uma investigação sobre o ocorrido.

"Loucura crescente. Ateiam fogo a um ser humano durante uma 'manifestação pacífica' da oposição em Caracas. Fascismo inoculado", denunciou no Twitter o ministro de Comunicação e Informação, Ernesto Villegas, ao compartilhar um vídeo do ocorrido.

Após ter o corpo molhado com gasolina, o rapaz tenta fugir Foto: AFP PHOTO / CARLOS BECERRA

Villegas denunciou que os jovens que moram em favelas e são contratados, segundo ele, pela oposição para protestar de forma violenta "se expõem a serem confundidos com infiltrados (que apoiam o governo), o que pode lhes custar a vida ou a integridade".

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O deputado governista Earle Herrera afirmou em seu programa semanal de TV que o homem queimado foi acusado de ser chavista ou de estar roubando. A liderança opositora não se pronunciou sobre o ocorrido. Governo e oposição se responsabilizam mutuamente pela violência nas manifestações.

Em sete semanas, além de 47 mortos, foram centenas de feridos e quase 2.200 detidos. De acordo com a ONG Foro Penal, ao menos 161 pessoas foram encarceradas por ordem de tribunais militares.

ATENÇÃO, AS IMAGENS A SEGUIR SÃO FORTES

"Isso foi um massacre contra o povo, mas, apesar de tudo, quanto mais repressão, mais resistência e luta pela Venezuela", declarou o líder opositor Henrique Capriles, antes de iniciar a caminhada para o Ministério do Interior.

Os opositores então ateiam fogo no rapaz com um isqueiro Foto: AFP PHOTO / CARLOS BECERRA

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"Convidamos a marchar todo o dia que for necessário até que haja uma mudança na Venezuela", insistiu Capriles. "Bandido, corrupto, você vai sair", gritou.

Já em San Cristóbal, no estado de Táchira, fronteiriço com a Colômbia, mais de 40 mil pessoas foram às ruas, (segundo cálculos da AFP). Esta semana, o presidente Maduro ordenou o envio de 2.600 militares para "preservar a paz" nessa região, após violentos distúrbios.

Nos últimos dias, aumentaram as mortes por ferimentos a bala em atos relacionados aos protestos. Vários policiais e militares já estão sendo investigados. Alguns desses fatos aconteceram em Táchira.

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Em outra parte da cidade, no palácio presidencial de Miraflores, Maduro receberia mais de dois mil trabalhadores (segundo cálculos da AFP), um mar vermelho, a cor do chavismo. Cantando e dançando, o grupo partiu do centro de Caracas para expressar seu apoio à Assembleia Constituinte "popular", convocada recentemente pelo presidente. Maduro não apareceu para recebê-los.

O país está completamente dividido e quase paralisado, em meio a uma grave crise econômica. Os opositores denunciam uma "repressão selvagem" do governo, enquanto Maduro os acusa de apelar para o "terrorismo" para dar um golpe de Estado com financiamento dos Estados Unidos.

O jovem teve 80% do corpo queimado Foto: AFP PHOTO / CARLOS BECERRA