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Atrás de força, japoneses buscam religiosidade

Sobreviventes da tragédia recorrerão às tradições de sua cultura budista, que remonta a séculos de história, e às antigas crenças xintoístas dos primeiros habitantes do país

Por Cathy Lynn Grossman e USA Today
Atualização:

Depois da morte de milhares de pessoas na semana passada, onde o povo japonês poderá encontrar força espiritual? Especialistas na cultura japonesa dizem que eles recorrerão aos rituais centrais e reconfortantes da religião, assim como fazem cristãos e judeus no Ocidente. Os japoneses buscarão as tradições de uma cultura budista distinta, que remonta a séculos de história, e as antigas crenças xintoístas dos primeiros habitantes do país - 90% da população japonesa é adepta do budismo, do xintoísmo ou de uma mistura de ambos. No momento, a maioria dos sobreviventes japoneses está, como os americanos que passaram pelos ataques de 11 de Setembro, no estágio da divulgação de fotos dos entes queridos desaparecidos. "Mas, para as famílias que já recuperaram seus mortos, os preparativos para as preces nos funerais e os rituais de cremação já começaram", diz Duncan Williams, sobrevivente do terremoto de sexta-feira e presidente do departamento de budismo japonês na Universidade da Califórnia. "Nas tradições do budismo, o ritual do sétimo dia é o início de 33 anos de cerimônias fúnebres formais", explica Williams. Segundo ele, assim como cristãos e judeus oram por aqueles que morreram e pelos enlutados, a população de todo o Japão deve começar seus rituais e preces, que partirão também de países como Tailândia e Taiwan, onde muitos são adeptos da versão japonesa do budismo. O budismo trata do sofrimento e busca aliviá-lo. Enfatiza a compaixão ao mesmo tempo em que reconhece que a morte faz parte da vida. Williams diz que, no Japão, os monges assegurarão às pessoas que elas sobreviveram por algum motivo. "Nos velórios, após as preces e os cânticos, os monges e as pessoas presentes oferecem todo o mérito àqueles que morreram e aos que estão sofrendo. Rezarão aos deuses para que o "rei do inferno" não leve embora seus entes queridos.""Essa conversa de deuses e reis do inferno não se assemelha muito ao budismo meditativo mais conhecido no Ocidente", diz o antropólogo cultural John Nelson. Ele é especialista em santuários budistas e xintoístas e preside o departamento de teologia da Universidade de São Francisco. Nelson descreve a cultura xintoísta como "semelhante às religiões tribais, sendo mais forte nos ambientes rurais". "Os habitantes das montanhas falam com as divindades da montanha, por exemplo." Em comparação, o budismo - que, segundo ele, predomina atualmente sobre o xintoísmo no Japão - aponta menos para os espíritos do mundo natural. Trata mais dos rituais da sociedade, da família e do Estado. Ainda assim, a ideia de que os deuses também castigam as pessoas circulou na imprensa japonesa. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALILÉ JORNALISTA

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