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Áudio derruba versão de que caças evitariam ataques

Atualização:

 

NOVA YORK - Por um instante, na manhã do 11 do Setembro, um jato comercial, que tinha desaparecido de todos os radares da aviação moderna, ficou visível em seus segundos finais para os que tentavam encontrá-lo. Era pouco depois das 9 horas - 16 minutos depois de um avião bater na torre norte do World Trade Center - quando uma transmissão por rádio foi captada no centro de controle de tráfego aéreo de Nova York.

 

 

"Ei, você pode olhar pela janela neste segundo?", dizia uma voz. "Sim", respondeu o chefe do controle de radar. "Você vê um cara a cerca de 1,2 mil metros, a cerca de 5 graus leste do aeroporto neste momento, parece que ele está..."

 

"Sim, estou vendo", disse o chefe. "Você vê aquele cara, olha, está descendo na direção do prédio também?", perguntou a voz. "Ele está baixando muito depressa também, sim," disse o chefe. "Mil e trezentos à direita agora, ele acabou de despencar 240 metros parece num mergulho só".

 

"Que avião é aquele, vocês conseguem ver?"

 

"Não sei, vou decifrar em um minuto", disse o chefe. Não houve tempo. No fundo, é possível ouvir as pessoas gritando: "Outro acabou de bater no edifício. Nossa. Outro acabou de bater. Outro acabou de bater no World Trade".

 

"Todo o edifício acaba de se desintegrar", disse o chefe. Aquele instante faz parte de uma crônica que acaba de ser divulgada das reações da aviação civil e militar aos sequestros, originalmente elaborada pelos investigadores para a comissão do 11 de Setembro, mas que nunca tinha sido concluída nem divulgada.

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Sintetizado numa narrativa que cobre cada um dos aviões sequestrados, o documento multimídia contém 114 gravações dos controladores de tráfego aéreo, oficiais da aviação militar, pilotos de aviões comerciais e caças a jato, além de dois dos sequestradores, e se estende por duas horas daquela manhã.

 

Embora parte do áudio tenha sido revelada ao longo dos anos, principalmente em audiências, o relato fornece uma rara visão dos acontecimentos.

 

'Situação urgente, muito urgente'

 

Às 9 horas, um chefe do controle de tráfego aéreo de Nova York telefonou para a sede da Administração Federal da Aviação (FAA, em inglês) em Herndon, Virginia, tentando descobrir se as autoridades da aviação civil estavam trabalhando com os militares.

 

"Várias coisas estão acontecendo aqui, a situação é urgente, muito urgente, e precisamos que os militares trabalhem conosco", disse. Um avião já tinha batido na torre norte do World Trade Center. Outro tinha sido sequestrado e atingiria a torre sul. Na sede da FAA, nem todos se mexeram com rapidez.

 

"Por que, o que é que está acontecendo?", perguntou o sujeito em Herndon. "Só me consiga alguém que tenha autoridade para colocar aviões militares no ar, agora", disse o chefe.

 

Contradições

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Segundo declarações do então vice-presidente Dick Cheney, da FAA e do Departamento da Defesa, pilotos de caça estavam prontos para executar uma ordem imediata do presidente George W. Bush para derrubar os aviões comerciais. A comissão descobriu que muito pouco destas declarações correspondia à verdade.

 

Dos quatro voos, os comandantes militares foram avisados nove minutos antes a respeito daquele que bateu no World Trade Center. Só ficaram sabendo dos outros três que haviam sido sequestrados quando eles também bateram.

 

Os comandantes militares, ao receberem uma ordem vinda de fora da cadeia de comando para derrubar os aviões sequestrados, não a transmitiram aos pilotos dos caças, mas os instruíram a identificar os números de qualquer avião que estivesse fora da rota. A esta altura, não havia mais sequestradores no ar para que pudessem derrubar. O documento que acaba de ser divulgado mostra precisamente que as gravações contradizem os relatos das principais autoridades. / NYT

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