
16 de junho de 2011 | 00h00
Após a invasão do Iraque liderada pelos americanos, em março de 2003, o governo de George W. Bush inundou o país com tanto dinheiro para pagar a reconstrução e outros projetos no primeiro ano que originou uma nova unidade de medida.
Funcionários do Pentágono determinaram que um avião de carga Hércules C-130 podia carregar US$ 2,4 bilhões em maços compactados de notas de US$ 100. Eles enviaram uma carga completa inicial de dinheiro, seguida por outros 20 voos ao Iraque até maio de 2004, numa transferência total de US$ 12 bilhões que autoridades americanas acreditam ter sido o maior transporte aéreo de dinheiro de todos os tempos.
Neste mês, o Pentágono e o governo iraquiano estão finalmente fechando os livros sobre o programa que entregou essas notas. Apesar de anos de auditorias, funcionários do Pentágono ainda não sabem dizer o que houve com US$ 6,6 bilhões do dinheiro. Pela primeira vez, auditores federais sugerem que parte do dinheiro, ou todo ele, pode ter sido roubada, não apenas extraviada num erro contábil.
O mistério é um embaraço crescente para o Pentágono, e um fator de irritação nas relações entre Washington e Bagdá. Autoridades iraquianas estão ameaçando ir aos tribunais para reclamar o dinheiro, que veio de vendas de petróleo iraquiano, ativos iraquianos sequestrados e fundos de reserva do programa petróleo por alimento, da ONU.
O Congresso americano que já desembolsou US$ 61 bilhões de dinheiro do contribuinte americano para projetos semelhantes de reconstrução e desenvolvimento no Iraque, também não está satisfeito.
"O Congresso não pretende gastar bilhões do nosso dinheiro para cobrir bilhões do dinheiro deles, dos quais eles não conseguem prestar contas", disse o deputado Henry Waxman (democrata da Califórnia).
Desvios. O roubo de um valor tão monumental parece improvável, mas as autoridades americanas não descartam essa possibilidade. Alguns prestadores de serviços americanos foram acusados de desviar dezenas de milhões em subornos e propinas logo após a invasão. Mas autoridades iraquianas são as principais suspeitas.
O transporte aéreo de dinheiro americano foi uma medida de desespero, organizado quando o governo Bush estava ansioso para restaurar serviços públicos e uma economia abalada para dar aos iraquianos a confiança de que a nova ordem seria uma melhoria drástica em relação ao Iraque de Saddam Hussein.
A Casa Branca decidiu usar o dinheiro no chamado Fundo de Desenvolvimento do Iraque, criado para reter o dinheiro recolhido durante os anos em que o regime de Hussein enfrentava sanções econômicas e comerciais terríveis.
Em 2005, investigadores denunciaram que as autoridades americanas "não usaram virtualmente nenhum controle financeiro para prestar contas das enormes retiradas de dinheiro depois que elas chegaram no Iraque, e há evidências de desperdícios, fraudes e abusos substanciais nos gastos reais e no desembolso dos fundos iraquianos".
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