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Aulas de DJ ensinam a arte do scratch

Por Agencia Estado
Atualização:

DJ Chi balança a cabeça no ritmo, enquanto seus dedos escorregam pelo disco à sua frente, uma mão numa batida louca e a outra esfregando o vinil, enquanto Possum, Raydar, Moses e outros DJs na sala ouvem seu som. Esta não é uma batalha de DJs ou uma rave, mas uma aula de técnica de toca-disco no Berklee College of Music. O Berklee se proclama a primeira escola superior de música do país a oferecer essa matéria como parte de seu currículo geral. DJ Chi é Yoon J. Suh, de 21 anos, um dos oito estudantes de Berklee que passam duas horas, todas as quintas-feira, com os fones de ouvidos ligados, fazendo scratchs, stabs e backstabs, que são elementos essenciais da música hip-hop. ?Não posso sequer fazer o que você está fazendo, cara!?, diz Needlejuice, apelido do professor e instrutor de scratch Stephen Webber, enquanto tenta recriar o stacatto de Chi em seu próprio toca-disco. O manejo do toca-disco é uma parte essencial do hip-hop, a cultura e música urbana que cresceu à volta dos DJs ? a sigla para disc jockeys ? manipulando gravações para criar combinações de sons. Scratch, um movimentar de disco ritmicamente, para frente e para trás, sob a agulha é a habilidade principal dos artistas do toca-discos. O rap é outra. Depois de vários anos de idas e vindas, o Berklee permitiu a Webber começar a ensinar a técnica do toca-disco, em janeiro, para estudantes que queiram aprender a alternar faixas e criar batidas no sintetizador. ?O hip-hop tem estado por aí por há, quanto, 25 anos?? diz Webber. ?A técnica do DJ é uma das principais expressões do hip-hop. Parte de nossa missão é apresentar os principais movimentos do momento, e pode se dizer que o hip-hop é uma das mais influentes culturas da história do mundo. Faz todo o sentido que o Berklee tenha entrado nisso.? Samuel Hope, diretor executivo da National Association of Schools of Music, diz que nunca ouviu falar de algo como essa classe. ?Fazer algo desse tipo está certamente dentro da grande tradição de inovação, que é parte das artes?, assegura. ?Apenas o tempo dirá se isso é só uma moda passageira ou não.? A decisão da escola de acrescentar a matéria a seu currículo é um marco na evolução da música e cultura hip-hop, que se originaram nos anos 70 nos subúrbios pobres dos EUA e então explodiram num segmento multimilionário da indústria fonográfica e do entretenimento. ?É um mega-fenômeno da cultura americana. Sim, pode ser ensinado em escolas?, diz Robin Chandler, professor universitário de estudos afro-americanos. Webber, 45 anos, um músico e produtor que ensina em Berklee desde 1994, interessou-se pela técnica do toca-disco em 1997, quando um estudante mostrou-lhe um vídeo de uma competições de grandes DJs. Ele ficou tão encantado que resolveu aprender por si mesmo. ?Sai e comprei dois toca-discos e um sintetizador. Coloquei-os no porão da minha casa e comecei a fazer scratchs. Minha mulher e meus filhos pensaram que eu tinha pirado?, diz. Ele acabou um livro - Turntable Technique: The Art of the DJ - em 1999, que tornou-se o mais vendido da Berklee Press, e transformou-o numa proposta de curso. Os administradores da universidade tiveram de ser convencidos. Havia custos e problema de espaço, mas eles também queriam ter certeza de que seria um curso que valeria fazer. Acabaram decidindo que sim, uma vez que a escola tinha feito o mesmo com outras formas marginais de música, diz Gary Burton, o vice-presidente executivo da Berklee. ?Nós oferecemos música popular, jazz, música contemporânea e estamos constantemente olhando para artistas jovens para ver como vão indo?, ele continua. ?Quando nossos alunos mostram interesse por algo, normalmente significa que isto está se tornando popular.? Durante uma aula recente, os estudantes ? quatro homens e quatro mulheres ? alinharam-se em duas filas, encarando-se por sobre os toca-discos. Depois que Weber cumprimentou os jovens, eles começaram a criar batidas no sintetizador, fazendo que o ritmo de seus toca-discos correspondessem exatamente ao de Weber ? uma habilidade necessária para DJs, que juntam batidas ao combinar cuidadosamente música de um disco com outro. Depois disto, eles praticaram diferentes técnicas de scratch, como scribbles, stabs e lasers, misturando faixas de sons variados com música Cajun, do álbum de técnicas de Webber. As faixas incluem trechos do discurso de Richard Nixon proclamando ?Eu não sou um escroque!? DJ Raydar, pseudônimo de Brian W. Ellis, de 21 anos, disse que primeiro aprendeu a técnica de DJ no aparelho estéro de sua família. Para ele, essa aula é parte da evolução da música, embora para o gosto de seus pais esse som possa ser considerado estranho. ?Até mesmo o jazz quando começou, nos anos 20, 30, 40, nossos avós achavam que era só barulho e porcaria e nunca uma forma de música?, diz. ?É natural que uma forma musical seja evitada no começo, depois aceita, então adotada, depois estudada e, aí, ensinada.?

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