Aumenta pressão por saída de família Murdoch da direção de empresa

Acionistas da News Corp estão descontentes com escândalo e outras decisões de James e Rupert.

PUBLICIDADE

Por BBC Brasil
Atualização:

Quem dá as ordens na News Corp? Até semana passada, a resposta era imediata: Rupert Murdoch. Hoje, a resposta provavelmente seria a mesma. Mas teria que ser cuidadosamente detalhada. Com o valor das ações da News Corp em queda, o descontentamento dos investidores está crescendo. Alguns membros da junta de diretores começam a fazer perguntas constrangedoras, enquanto outro diretor - recém-incorporado na empresa - já recebeu de Murdoch a ordem de abrir um comitê de crise. E agora um relatório do Wall Street Journal afirma que Rupert Murdoch pode estar planejando deixar a presidência-executiva da News Corp nos próximos meses, abrindo caminho para alguém de fora da família. Estrutura de classes O clã Murdoch possui apenas 12% das ações da News Corp, de acordo com dados compilados pelo serviço de notícias da Bloomberg. Entretanto, seu controle da empresa era absoluto até pouco. "Não há qualquer cenário em que [acionistas externos] tenham voz na governança corporativa da News Corp", diz a analista de mídia Claire Enders. "Os Murdoch tomam todas as decisões". Isso se deve em grande parte ao fato de que 70% das ações do grupo de mídia - as chamadas "A shares" - não têm poder de voto. Então a maioria dos investidores da News Corp não tem qualquer poder na decisão sobre quem integra a junta de diretores, ou sobre como a companhia é administrada, que dividendos paga, e assim por diante. A família Murdoch possui não mais de 38% das ações do restante das "B shares" - que têm direito de voto. Entretanto, as chances de os 62% de investidores restantes se voltarem contra o presidente-executivo são pequenas. Cerca de 7% são de propriedade de Al-Waleed bin Talal, um príncipe saudita que recentemente confirmou seu apoio aos Murdoch em uma entrevista à BBC, elogiando sua "grande ética". Além disso, a propriedade dos 40% das ações com direito de voto não é conhecida, e pode incluir investidores leais à família. Revolta de acionistas? Além disso, movimentos recentes no valor das ações da News Corp sugerem que os investidores não estão muito contentes com a liderança de Rupert Murdoch. O valor caiu 17% em duas semanas, à medida que o escândalo dos grampos começou a atingir a reputação da News Corp e interesses maiores da empresa, incluindo o abandono da tentativa de comprar a totalidade das ações da empresa BSkyB. Nesta terça-feira, entretanto, o valor das ações começou a subir, em meio a rumores de que Murdoch estaria saindo. "Há perguntas concretas nos EUA sobre como James Murdoch e seu pai lidam com a News International", diz Enders. "Por que o relatório de 2007 se tornou uma bomba relógio? As pessoas fazem repetidamente este tipo de pergunta, sobre por que medidas não foram tomadas mais rapidamente". Mesmo antes de o escândalo de grampos ter ressurgido este mês, já havia descontentamento sobre decisões do fundador e dos executivos-chefe da empresa. Essas decisões incluem a perda multibilionária na recente aquisição da Dow Jones - proprietária do Wall Street Journal - assim como sobre a compra do MySpace. O investidor e blogueiro britânico Terry Smith se tornou um dos críticos mais vorazes de Murdoch, dizendo que ele deveria ter sido demitido por seus acionistas. O problema que os acionistas enfrentam agora é que não há precedentes sobre como eles podem fazer Murdoch sair, diz Enders. Uma opção pode ser o litígio. Dois investidores dos EUA ligados a sindicatos estão processando diretores da News Corp por superfaturamento, na ocasião da compra pela empresa do Shine Group, uma produtora de TV britânica, de propriedade da filha de Murdoch Elisabeth. Os dois investidores - o Amalgameted Bank e a Central de Fundo de Pensão dos Trabalhadores - aumentaram o escopo de seu processo, para também acusar a junta diretora da empresa de "não ter qualquer capacidade de análise" e permitir uma "cultura de caos" no News of the World. Mas o verdadeiro temor da News Corp é de processos futuros, de acordo com Laura Martin, analista da empresa Needham & Co. Ela diz que este medo levou diretores independentes da junta a fazer mais perguntas. "Se trata de limitar suas perdas", diz ela. "A motivação principal é proteger seu valor líquido". Os diretores independentes, que são nove dos 17 integrantes da junta da News Corp, reclamaram de não terem sido informados sobre o escândalo de escuta ilegal, e perguntam se é necessária uma mudança de liderança. Eles são liderados por Viet Dinh, que rascunhou a Lei Patriota como vice-procurador geral do governo de George W. Bush, e o investidor Tom Perkins. Dinh representou Perkins legalmente em 2006 quando ele pediu demissão do cargo de direção da empresa Hewlett Packard, acusado de espionagem por sua presidente à época. "Ninguém pode forçar [Rupert Murdoch] a sair", diz Martin. "Ele vai criar confusão. Mas a única coisa que podem fazer é deixar o cargo". Mas até o momento, nenhum membro da junta diretora da empresa criticou os Murdoch publicamente. James Murdoch - herdeiro aparente, desde que seu irmão mais velho Lachlan foi posto de lado em 2005 - já está sob pressão para abandonar a presidência da BSkyB. Agora há rumores de que sua estrela está caindo de outras formas, incluindo o de que ele pode estar sendo ofuscado por sua irmã, Elisabeth. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.