Australiano preso em Guantánamo se declara culpado

David Hicks, de 31 anos, afirma ter sido sodomizado, agredido e recebido injeções à força na prisão, acusações que os militares dizem ser falsas e absurdas

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Por Agencia Estado
Atualização:

O australiano David Hicks declarou-se culpado de apoiar atividades terroristas durante uma audiência realizada na segunda-feira, 26, na base militar americana de Guantánamo, em Cuba. Hicks é o primeiro suspeito de terrorismo a ser acusado nos novos tribunais especiais de Guantánamo. O sistema anterior, criado pelo Pentágono, foi declarado inconstitucional pela Suprema Corte dos Estados Unidos. O australiano, de 31 anos, enfrenta a acusação de dar apoio ao terrorismo. Ele supostamente recebeu treinamento num acampamento da rede Al-Qaeda e lutou ao lado dos talebans durante a invasão do Afeganistão, em 2001. Hicks, muçulmano e pai de dois filhos, foi capturado no Afeganistão e levado a Guantánamo em janeiro do 2002. Ele compareceu ao tribunal militar vestindo um uniforme cáqui de prisioneiro e com o cabelo comprido, que usa para bloquear a luz permanentemente acesa em sua cela, segundo explicou seu advogado, David McLeod. O acusado se declarou culpado ao juiz militar Ralph Kohlmann. O juiz pediu a promotores e advogados da defesa que cheguem a um acordo até esta terça-feira, 27, quando dará a sentença. Um acordo diplomático permitirá a Hicks cumprir a sua pena na Austrália. Segundo a agência Reuters, Hicks disse ter sido sodomizado, agredido e recebido injeções à força na prisão, acusações que os militares dizem ser falsas e absurdas. Ele não é acusado de envolvimento no 11 de Setembro, e a entidade Human Rights Watch diz que ele poderia tranqüilamente ser submetido ao Judiciário comum dos EUA. Pena A pena máxima prevista é de prisão perpétua. Mas o promotor principal do caso, o coronel Morris Davis, disse que outros casos semelhantes resultaram em penas de 20 anos de prisão. A acusação original apresentada pelo Pentágono em 2004 era de tentativa de assassinato, ajuda ao inimigo e conspiração para atacar civis, cometer atos terroristas e destruir propriedades. No entanto, as acusações foram retiradas em junho, quando a Corte Suprema determinou que os tribunais especiais originais violavam a Convenção de Genebra, que regula o tratamento de inimigos capturados durante uma guerra. Em setembro o Congresso modificou as normas para os tribunais militares, mas as mudanças não satisfizeram às organizações de defesa dos direitos humanos. A ONG Human Rights Watch denunciou na segunda-feira, 26, em comunicado, que os tribunais especiais antiterroristas permitem o uso de confissões e provas obtidas mediante interrogatórios "abusivos", conduzidos antes de janeiro de 2006.

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