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Autoridades do Iraque acusam EUA de matar assessor de Sadr

Para eles, assassinato de assessor de clérigo xiita foi uma violação de um acordo feito com os norte-americanos para transferir o controle da cidade para os iraquianos

Por Agencia Estado
Atualização:

Autoridades iraquianas presentes em Najaf disseram nesta quinta-feira, 28, que a operação responsável por matar um importante assessor do clérigo xiita Moqtada al-Sadr havia sido uma violação de um acordo feito com os norte-americanos para transferir o controle da cidade para o Exército do Iraque. Menos de dez dias depois de os militares dos Estados Unidos terem repassado o controle de Najaf para as forças iraquianas, o major general William Caldwell, porta-voz das Forças Armadas norte-americanas, disse que um soldado dos EUA tinha matado Saheb al-Amiri, em uma operação planejada e realizada pelas forças do Iraque. Mas autoridades de Najaf afirmaram que nem o governo da província onde fica a cidade e nem as forças de segurança presentes ali tinham sido avisadas sobre a operação e contestaram a informação de que os iraquianos tinham planejado a investida. Como resposta à operação, milhares de simpatizantes de Sadr foram às ruas durante o funeral de Amiri para protestar contra as forças norte-americanas. Sadr controla a milícia Exército Mehdi, um grupo acusado pelos EUA de realizar vários assassinatos sectários e de disseminar a instabilidade nas regiões sul e central do país, incluindo um bairro de Bagdá batizado com o nome da família do clérigo. Segundo Caldwell, a operação tinha sido realizada por 35 soldados da 8ª Divisão do Exército Iraquiano, com o apoio de oito conselheiros militares dos EUA. Um porta-voz do governo de Najaf classificou a morte de Amiri como um ato de "assassinato" e disse que a operação tinha violado o acordo que rege a entrega do controle sobre a área de segurança. Assessores de Sadr disseram que Amiri controlava entidades de assistência social e que não tinha relação com as milícias. "O governo de Najaf considera esse ato uma violação do tratado de segurança, já que o controle da área de segurança foi oficialmente transferido para os iraquianos", disse Ahmed Diabil, porta-voz do governo da cidade. O porta-voz do Exército e da polícia em Najaf, coronel Ali Numas Ijrau, também contestou a informação divulgada por Caldwell. "Não recebemos qualquer aviso sobre uma operação que tinha por alvo a casa de Saheb al-Amiri. Foram os agentes norte-americanos que obtiveram as informações e que invadiram a casa", afirmou. Coalizão frágil Nenhum porta-voz do Ministério de Defesa do Iraque pôde ser encontrado para se manifestar sobre o caso. O primeiro-ministro do país, Nuri al-Maliki, e seus ministros passaram a manhã em uma reunião de gabinete. A morte de Amiri deve ter conseqüências graves para a fragilizada coalizão governista liderada pelos xiitas. Sadr, que oficialmente é um aliado de Maliki, mas cujos representantes no Parlamento e no gabinete de governo realizaram um boicote a fim de protestar contra o fato de o premiê ter se reunido, no mês passado, com o presidente dos EUA, George W. Bush, já liderou dois levantes contra as forças norte-americanas. Os comandantes militares dos EUA pressionam Maliki para que ele invista contra o Exército Mehdi, mas o premiê disse não desejar, em meio a esforços para manter unida a coalizão de governo, isolar ainda mais o jovem clérigo. Um relatório do Pentágono divulgado neste mês disse que a milícia Exército Mehdi era a maior ameaça do Iraque na área de segurança. Na quarta-feira, Sadr pediu calma, mas afirmou: "Sabemos que Bush, o inimigo de Deus, chora pela morte de seus soldados no Iraque. Pedimos a Deus que prolongue seu choro e seu sofrimento." Segundo Caldwell, Amiri resistiu à prisão, fugiu para o teto da sua casa e foi morto por um soldado dos EUA que o viu apontando um fuzil de assalto contra soldados iraquianos. Mas um filho de Amiri, de 13 anos de idade, disse que o pai estava desarmado quando foi morto. "Meu pai subiu no telhado e tentou pular o muro, para a casa de um vizinho. Ele não teve tempo de pegar sua arma e correu para cima desarmado. Eles entraram e subiram as escadas atrás dele. Ouvimos quatro tiros", disse Ahmed Amiri à Reuters. "Quando eles partiram, fomos lá em cima e vimos que ele tinha três ferimentos de bala no peito e um na cabeça."

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