Bactérias são piores que vírus em guerra bacteriológica

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Em virtude de sua resistência, as bactérias podem servir mais à fabricação de armas biológicas do que os vírus, afirmam especialistas europeus de microorganismos, entre eles o francês Jacques Grange, do Centro Europeu de Pesquisas em Virologia e Imunologia de Lyon. Em entrevista ao jornal francês Le Monde, Grange explicou que os esporos de certas bactérias podem sobreviver muito mais (séculos) num estado de "vida suspensa", esperando condições mais favoráveis para novamente se ativar. As cepas de bactérias ou de vírus eram obtidas facilmente até a Guerra do Golfo. Atualmente, a circulação, apesar de extremamente regulamentada, pode prosseguir clandestinamente. A Fundação Merieux, em Lyon, mantém um laboratório de alta segurança destinado a aplicar uma série de medidas para prevenir a saída de vírus para o exterior e evitar as conseqüências de diversas possibilidades de atentados bioterroristas. Por isso, hoje, a principal preocupação dos cientistas e autoridades sanitárias na preparação de um sistema de defesa são as bactérias, antes dos vírus. Atualmente, este laboratório faz parte de um sistema altamente sensível, em virtude do tipo de experiências científicas que pratica, fortemente guarnecido por forças policiais, classificado como local de segurança máxima. Inaugurado em março de 1999 pelo presidente Jacques Chirac, o laboratório, conhecido como o "P4 de Lyon", custou 50 milhões de francos. As regras de segurança são severas, para impedir toda tentativa de intrusão do exterior e qualquer fuga de microorganismos, além de proteger a saúde dos pesquisadores. É uma estrutura única na França, cuja atividade científica é garantida pelo Instituto Pasteur. Os pesquisadores trabalham com escafandros numa atmosfera confinada, mesmo porque, para os vírus mais perigosos, como os das febres hemorrágicas, Ebola e Marburg, não se dispõe de nenhum tipo de vacina ou tratamento eficaz. Indagado como reagir à psicose do atentado com armas biológicas , Jacques Grange explica porque teme mais as bactérias do que os vírus: "Quando você está com gripe, tosse a mais de 300 quilômetros por hora e expectora as células mortas contendo o vírus. É dessa forma que pode contaminar seu vizinho. Depois de alguns segundos as finas gotinhas em suspensão vão secar e o vírus será morto. Raros são os que sobrevivem ao ar livre sobre suportes inertes. Ao contrário, as bactérias são bem mais resistentes e podem passar a um estado de ´vida suspensa´, desde que encontrem um meio favorável, quente e úmido." Por isso, o antraz constitui um instrumento ideal para um bioterrorista. O esporo de carvão é um elemento extremamente resistente. Foi encontrado num túmulo escocês do século XIV, mas também está presente nas ilhas Shetlands, até hoje ainda contaminada. Foi lá que os britânicos experimentaram o carvão durante a Segunda Guerra. Os esporos estão enterrados no solo das ilhas, mas podem ser reativados se forem desenterrados. O antraz, segundo Jacques Granje, pode ser encontrado em muitas outras partes do mundo. Na França, em campos da Normandia , por exemplo. O laboratório P4 de Lyon tem ainda como missão formar pessoal que poderá intervir a pedido da Organização Mundial da Saúde (OMS), produzindo anticorpos de referência para que se possa efetuar os diagnósticos e participar da campanha para a fabricação de vacinas. Leia o especial

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.