Bagdá e Basra podem se tornar campos de batalha urbana

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Por Agencia Estado
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Uma das maiores preocupações do Pentágono na guerra é a possibilidade de ocorrência de sangrentos combates urbanos no Iraque, principalmente nas duas maiores cidades do país, Bagdá e Basra. Mas os dois municípios compartilham poucas semelhanças e o pensamento corrente no Pentágono é de que o porto sulista de Basra será muito mais fácil de capturar. Bagdá, a capital iraquiana, abriga não apenas muitos dos palácios de Saddam Hussein, mas também sua Guarda Republicana e outras forças de segurança. Basra, a apenas 35 quilômetros da fronteira kuwaitiana, tem cerca de 1,3 milhão de habitantes e é o principal porto e centro-chave para a indústria petrolífera do Iraque. A cidade foi devastada por combates - inclusive ataques de armas químicas na guerra Irã-Iraque, de 1980 a 1988, que foi travada principalmente pelo canal de Shatt al-Arab, que liga Basra ao Golfo Pérsico. Oficiais do Pentágono dizem que, aparentemente, Saddam não planeja oferecer muita resistência em Basra. A cidade é protegida por duas divisões regulares do exército, e não pelas relativamente bem equipadas, treinadas e fiéis Guardas Republicanas de Saddam. As tropas regulares não devem oferecer muita luta, talvez nenhuma, acreditam oficiais de inteligência do Pentágono. A maioria da população da cidade é xiita muçulmana - um grupo que rebelou-se contra o muçulmano sunita Saddam e seu governo dominado pelos sunitas em 1991 depois da Guerra do Golfo. Armas químicas Oficiais militares esperam que o sentimento anti-Saddam na cidade leve as tropas e moradores a receberem as tropas norte-americanas como libertadoras, dando um golpe psicológico para as tropas e autoridades do governo em Bagdá. O ponto de interrogação, entretanto, são as armas químicas. Oficiais do Pentágono afirmam ter evidências de que Saddam deu aos comandantes em campo autoridade para usar armas químicas por iniciativa própria e pode ter transferido esse tipo de arma para tropas reunidas no sul do país. O comandante militar iraquiano para a região que inclui Basra é um primo de Saddam, Ali Hassan al-Majid, conhecido por seus inimigos como "Ali Químico", por ter liderado a campanha da década de 80 contra rebeldes curdos que envolveu ataques com armas químicas que mataram milhares de civis. Logo depois do início da guerra, forças norte-americanas e britânicas no Kuwait irão provavelmente promover um assalto pela fronteira para capturar e manter Basra, visando evitar ataques químicos ou convencionais contra tropas concentradas no Kuwait e proteger a área para que forças do Iraque não ataquem a força da coalizão avançando para Bagdá. Notícias da mídia britânica dão conta de que tropas do Reino Unido devem ficar com a tarefa de manter Basra, um trabalho que os britânicos já fizeram no passado. A Grã-Bretanha invadiu o Iraque por Basra em maio de 1941 para expulsar nacionalistas árabes e o governo pró-Eixo, objetivo que os britânicos conseguiram cumprir no fim daquele mês. Bagdá é o grande desafio Bagdá será um desafio muito maior para as forças lideradas pelos EUA. Uma vasta cidade de mais de 5 milhões de habitantes, Bagdá tem uma relativamente sofisticada defesa aérea e está rodeada por três divisões da Guarda Republicana. A Guarda Republicana Especial de Saddam de 10.000 a 12.000 homens está em Bagdá, assim como dezenas de milhares de suas forças de segurança. Forças iraquianas já cavaram trincheiras e ergueram fortificações nos arredores da cidade, reforçaram algumas posições de tropas com sacos de areia e encheram com gasolina trincheiras e canais que seriam incendiados para produzir uma espessa tela de fumaça numa tentativa de atrapalhar ataques aéreos dos EUA. Oficiais do Pentágono dizem que a tática equivaleria a uma "lombada" para as forças dos EUA, que se apóiam fortemente em munições guiadas por satélite que não são afetadas pela fumaça. Ainda assim, combates urbanos em Bagdá poderiam ser mortais para civis iraquianos, perigosos para tropas dos EUA e comprometeriam a imagem de Washington no mundo. Se um grande número de forças leais iraquianas se espalharem pela cidade e se esconderem em áreas civis, os combates de rua resultantes seriam os mais mortais e confusos que os EUA já enfrentaram desde as lutas em 1993 na Somália. Tecnologia Quanta resistência as forças de coalizão encontrarão em Bagdá, entretanto, é difícil de prever. E os EUA têm a vantagem em equipamentos para visão noturna, imagens de satélite, comunicações e armas. Tropas norte-americanas dispõem de instrumentos de fibra ótica que permitem ver do outro lado da esquina, e pequenos aviões por controle remoto com câmeras que oferecem uma visão ampla dos campos de batalha urbanos. "A maior parte das instalações iraquianas e fortes pontos-chave estão em grandes complexos expostos", escreveu o especialista em Iraque, Anthony Cordesman, do Centro Internacional de Estudos Estratégicos. "Elas podem ser totalmente destruídas pelo ar com pouca possibilidade de baixas civis e danos colaterais." Veja o especial:

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