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Baixas no Afeganistão intensificam debate nos EUA

Por Agencia Estado
Atualização:

As cerca de 50 baixas, incluindo nove soldados mortos, que os Estados Unidos sofreram nos últimos dois dias em combate com forças remanescentes da Al-Qaeda e do Taleban, no Afegenistão, dificilmente diminuirão a determinação do presidente George W. Bush de levar adiante a guerra contra o terrorismo. Mas a perda de um helicóptero e o elevado porcetual de baixas - 5% do contingente - num único confronto, numa guerra que já parecia ganha, deverá afetar os cálculos da Casa Branca sobre seus planos de ampliação da campanha antiterrorista. Embora a reação previsível da opinião pública e dos políticos seja a de apoio ao presidente e às ações das forças armadas no Afeganistão, o episódio ocorreu num momento em que o sucesso e o rumo da guerra contra o terrorismo já começavam a ser questionados. Na semana passada, o líder da maioria no Senado, Tom Daschle, democrata de Dakota do Sul, desafiou a unanimidade que prevalecia sobre a condução da guerra por Bush, desde os atentados terroristas de 11 de setembro, e cobrou do presidente uma explicação sobre os critérios que permitirão aos Estados Unidos declarar o sucesso da campanha no Afeganistão. Os líderes republicanos no Congresso responderam acusando Daschle de tentar dividir o país, e chegaram perto de chamá-lo de traidor. Mas a verdade é Daschle manifestou-se sobre um tema - a busca da "saída" das forças armadas americanas do Afeganistão - que já vinha sendo discutido há algumas semanas nos editoriais e artigos de opinião da grande imprensa. As pesadas baixas sofridas nos últimos dias devem alimentar novas dúvidas sobre os planos de Bush de mobilizar as forças armadas dos EUA para caçar os integrantes, reais ou imaginários, da Al Qaeda nos quatro cantos do planeta. Filipinas O Pentágono já despachou forças especiais para treinar comandos antiterroristas nas Filipinas e prepara-se para fazer o mesmo no Iêmen e na República da Georgia. Paralelamente, a administração está levando adiante uma estratégia para remover o regime de Saddam Hussein do Iraque, possivelmente ainda este ano. Embora a maioria dos aliados dos EUA no mundo árabe e na Europa já tenha indicado a Washington que não aprova a idéia, na semana que vem o vice-presidente Dick Cheney iniciará um périplo pelo Oriente Médio e Ásia, para ganhar aliados para o plano. Os norte-americanos são unânimes em sua antipatia a Saddam Hussein. Mas isso não significa que apoiarão o envio de soldados para tirá-lo do poder, sem que haja uma justificativa clara além do desejo do atual presidente de concluir a guerra que seu pai, o ex-presidente George H. Bush, comandou, uma década atrás. "Francamente, não sabemos qual é o rumo", disse Daschle, no último domingo. "Estamos falando de mandar soldados para as Filipinas, o Iêmen e outros lugares, mas antes de fazer isso, acho que é importante para nós compreender melhor o propósito dessas ações, quanto tempo estaremos lá, quantos soldados enviaremos e como essas operações afetarão nossos esforços no Afeganistão." O senador John McCain, republicano de Arizona e herói da Guerra do Vietnã que disputou a candidatura do partido à Casa Branca na última eleição, manifestou a mesma preocupação do líder da maioria democrata no Senado. É preciso que haja "muito mais consultas (do executivo) com o Congresso e o povo norte-americano sobre exatamente qual é a nossa estratégia e quais são os nossos principais objetivos imediatos", afirmou McCain. "Estamos embarcando em outras partes do mundo, em novos tipos de operações, e essa nova fase da guerra contra o terrorismo precisa ser explicada." Segundo Ivo Daalder, da Fundação Brookings, a relutância da administração em mobilizar tropas para cumprir missões de pacificação no Afeganistão é sintomática de sua preocupação em não colocar o país em situações pantanosas. O Pentágono não tem data para retirar os 5.000 soldados americanos atualmente no país, mas já sinalizou sua preferência um plano de treinamento de uma força afegã de 50.000 homens como primeiro passo para uma estratégia. A missão na República da Geórgia preocupa Charles Pena, do conservador Instituto Cato. Segundo ele, a presença na ex-república soviética de um contingente de conselheiros militares americanos, para ajudar o governo a combater extermistas islâmicos e conter a influência da Rússia, mostra que talvez "os Estados Unidos tenham entrando numa guerra civil de outros". Leia o especial

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