22 de dezembro de 2010 | 16h00
Mulheres protestam contra violência que se seguiu às eleições
O Banco Mundial congelou nesta quarta-feira os financiamentos à Costa do Marfim, em meio à crise política que coloca o país sob o risco de uma guerra civil após as eleições de novembro.
Em Paris, o presidente do Banco, Robert Zoellick, disse que a decisão de suspender os empréstimos ao país foi adotada após uma conversa com o presidente francês, Nicolas Sarkozy.
França e Alemanha já pediram a seus cidadãos que saiam da Costa do Marfim, após declarações da ONU de que uma nova guerra civil pode eclodir.
O presidente em exercício do país, Laurent Gbagbo, se recusa a deixar o cargo, mesmo após ter sido declarado derrotado nas eleições pelo ex-primeiro-ministro Alassane Ouattara.
Gbagbo exigiu que a missão de paz da ONU deixe o país depois que a organização reconheceu formalmente Alassane Ouattara como o novo presidente.
A ONU rejeitou a saída da Costa do Marfim e renovou a missão por mais seis meses. Cerca de 800 soldados de paz protegem o Golf Hotel, em Abidjan, onde está Alassane Ouattara.
Gbagbo diz que Ouattara tem permissão para sair, mas um bloqueio impede que o hotel receba suprimentos e medicamentos.
Retirada
O governo francês pediu nesta quarta-feira que seus cidadãos deixem o país, por temores de que estrangeiros sejam alvejados se as tensões aumentarem.
O porta-voz da Presidência, François Baroin, disse que a medida é "preventiva". Atualmente, há cerca de 15 mil cidadãos franceses na Costa do Marfim. Baroin disse que os franceses devem deixar o país "temporariamente, até que a situação se normalize".
Na última terça-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que há um "sério risco" de que o país volte à guerra civil.
"Tenho receio de que essa interrupção de suprimentos essenciais para a missão e para o Golf Hotel coloque nossos soldados de paz em uma situação crítica nos próximos dias", disse.
O secretário-geral revelou ainda que a Unoci (missão da ONU no país) confirmou que "mercenários, incluindo antigos combatentes da Libéria, foram recrutados para atacar certos grupos da população".
Eleições
Os protestos e a instabilidade desde o segundo turno da eleição presidencial ameaçam levar a Costa do Marfim de volta à guerra civil (2002-2007) que provocou um colapso econômico no país, o maior produtor mundial de cacau.
Poucos dias após a votação de novembro, a Comissão Eleitoral Independente (CEI) declarou Ouattara vencedor com 54,1% dos votos válidos, contra 45,9% de Gbagbo.
No entanto, após o atual presidente e seus simpatizantes terem afirmado que houve fraude nas áreas do norte do país controladas por rebeldes ligados à oposição, o Conselho Constitucional alterou o resultado e anunciou Gbagbo como vencedor, com 51% dos votos.
Pelo menos 50 pessoas foram mortas em distúrbios desde então.
Ambos os candidatos participaram de cerimônias de posse quase simultâneas e reivindicam a Presidência.
O atual presidente, que tem o apoio das Forças Armadas, está no cargo desde 2000. Seu atual mandato expirou em 2005, mas a eleição presidencial vinha sendo adiada desde então sob o argumento de que não havia segurança para sua realização.
Em seu pronunciamento na TV estatal, Gbagbo reafirmou sua vitória nas eleições e atribuiu os confrontos recentes "à recusa dos adversários em se submeter à lei".BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
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