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Barack Obama para presidente

Principais trechos do editorial do jornal ?The New York Times?, publicado ontem

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Por Redação
Atualização:

A hipérbole é a moeda de campanhas presidenciais, mas neste ano o futuro do país é realmente incerto. Os EUA estão exauridos e à deriva após oito anos de uma liderança capenga do presidente George W. Bush. Ele vai transmitir a seu sucessor duas guerras, uma imagem global manchada e um governo desprovido de sua capacidade de proteger e ajudar seus cidadãos - estejam eles fugindo de enchentes, procurando assistência à saúde ou batalhando para manter suas casas, empregos e pensões em meio a uma crise financeira anunciada e evitável. Leia a íntegra do editorial do NYT Por mais duros que sejam os tempos, a escolha de um novo presidente é fácil. Após uma campanha cansativa, o senador Barack Obama mostrou que é a escolha certa. Ele enfrentou um desafio após outro, crescendo como líder e colocando substância em suas promessas de esperança e mudança. Acreditamos que ele tem vontade e capacidade de forjar o consenso político fundamental para encontrarmos soluções para os problemas da nação. Ao mesmo tempo, o senador John McCain recuou cada vez mais para as franjas da política americana, fazendo uma campanha em cima de divisão partidária, luta de classes e até insinuações de racismo. Suas políticas e visão de mundo estão atoladas no passado. Sua escolha de uma vice tão obviamente inadequada para o cargo foi um ato final de oportunismo e mau julgamento que eclipsou seu feitos no Congresso. Dada a natureza torpe da campanha de McCain, o impulso para se escolher com base na emoção é forte. Mas há um valor maior quando se observam os fatos da vida americana e as prescrições que os candidatos oferecem. As diferenças são profundas. McCain oferece mais da ideologia republicana do cada um por si, agora em frangalhos em Wall Street e nas contas bancárias dos americanos. Obama tem outra visão do papel e das responsabilidades do governo. Em seu discurso na convenção democrata, Obama disse: "O governo não pode resolver todos nossos problemas, mas o que deve fazer é aquilo que nós não podemos fazer sozinhos: proteger-nos de danos e proporcionar educação decente; manter nossa água limpa; investir em escolas e estradas." Desde a crise financeira, ele identificou corretamente fracasso da regulação do governo que levou os mercados à beira do colapso. A ECONOMIA O sistema financeiro americano é vítima de décadas de políticas republicanas desregulatórias e contra impostos. Essas idéias se mostraram erradas a um preço incomensurável, mas McCain - um autoproclamado "soldado de infantaria da revolução Reagan" - ainda acredita nelas. Obama considera que reformas de longo alcance serão necessárias para proteger americanos e empresas americanas. McCain fala muito de reforma, mas sua visão é mesquinha. Sua resposta a qualquer questão econômica é eliminar os gastos clientelísticos - cerca de US$ 18 bilhões num orçamento de US$ 3 trilhões -, cortar impostos e esperar que os mercados resolvam o problema. Obama é claro em que a estrutura fiscal precisa ser modificada para se tornar mais justa. Isso significa que os ricos - beneficiados desproporcionalmente pelos cortes de impostos de Bush - terão de pagar mais. Os americanos trabalhadores, que viram seu padrão de vida cair, se beneficiarão. SEGURANÇA NACIONAL As forças militares americanas estão perigosamente espalhadas. Bush negligenciou a guerra necessária no Afeganistão, que agora corre o risco de descambar para a derrota. A guerra desnecessária e assustadoramente cara no Iraque precisa ser encerrada da maneira mais rápida e responsável possível. Enquanto líderes iraquianos insistem numa redução de tropas e num prazo para o fim da ocupação, McCain ainda fala de uma pouco definida "vitória". Mas não ofereceu um plano real para retirar os soldados e limitar danos. Obama foi um opositor ponderado da guerra e apresentou um plano para a retirada das tropas. Os dois falam de melhorar a imagem dos EUA. Mas nos parece clara a probabilidade muito maior de Obama conseguir isso - e não só porque o primeiro presidente negro apresentaria uma nova face americana. Obama quer reformar a ONU, McCain quer criar uma nova entidade - algo que incitaria fúrias antiamericanas. O IMPÉRIO DA LEI Com o presidente Bush, a Constituição, a Declaração de Direitos, o sistema judiciário e a separação de poderes ficaram sob ataque constante. Bush preferiu explorar a tragédia de 11 de Setembro, o momento em que ele parecia o presidente de uma nação unificada, para tentar se colocar acima da lei. Bush se arrogou o poder de prender pessoas sem acusação e intimidar o Congresso a conceder uma autoridade irrestrita para espionar americanos. Os dois prometem fechar Guantánamo. Mas Obama foi além, prometendo corrigir os ataques de Bush ao sistema democrático. McCain tem se mantido em silêncio sobre esse tema. OS CANDIDATOS Será um desafio enorme apenas devolver à nação ao que ela era antes de Bush, começar a melhorar sua imagem no mundo e restabelecer sua autoconfiança e seu respeito próprio. Fazer tudo isso exigirá força de vontade, caráter, intelecto, julgamento sóbrio e um comando firme e sereno. Obama tem essas qualidades de sobra. Vê-lo ser testado na campanha há muito apagou as reservas que nos levaram a endossar Hillary Clinton nas primárias democratas. McCain, a quem escolhemos como o melhor candidato republicano nas primárias, gastou as últimas fichas de julgamento sólido para aplacar as demandas ilimitadas e a visão estreita da ala direita republicana. Este país precisa de uma liderança sensata, uma liderança compassiva, uma liderança honesta e uma liderança forte. Barack Obama mostrou que tem todas essas qualidades.

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