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Baradei exige saída imediata de Mubarak

BBC anuncia aliança de líder moderado com o grupo fundamentalista Irmandade Muçulmana

Por Jamil Chade
Atualização:

Mohamed El Baradei, autoproclamado um dos líderes da oposição ao governo egípcio, acusa o presidente Hosni Mubarak de estar "surdo" e exige que o presidente abandone o país imediatamente. Em declarações feitas ao Estado e a um grupo de jornalistas que o acompanhava na Praça Tahrir, no Cairo, ontem, Baradei insistiu que as chances de Mubarak permanecer no poder acabaram."Sua permanência não é mais negociável. Ele precisa sair (do Egito) e isso precisa acontecer logo. Mubarak não entendeu ou não quis entender que o Estado que ele criou faliu", completou.O ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica chegou ao Cairo com a aura de que salvador da pátria. Mas descobriu que não é consenso entre a população e muito menos entre os partidos políticos. Mesmo assim, Baradei insistiu ontem que ele é a pessoa indicada para realizar a transição. "Recebi um mandato de pessoas muito importantes para entrar em contato com o Exército", afirmou, sem entrar em detalhes. "Tenho boas relações no exterior e estou convencido que posso ajudar a levar o país à democracia."Mais tarde, a emissora britânica BBC informou ter recebido um comunicado enviado pelo grupo fundamentalista Irmandade Muçulmana - proscrito, mas que tem o apoio de entre 15 e 20% da população - no qual a facção anunciou uma aliança com o moderado Baradei. O crescimento da importância política da Irmandade, antiamericana, é um dos grandes temores de Washington, o que torna a aliança com Baradei surpreendente. Desde o começo das manifestações antigoverno, o grupo radical tinha recomendado silêncio a seus líderes - para evitar despertar na comunidade internacional o temor das consequências de uma possível queda de Mubarak não ocorra. "Não queremos tomar o poder agora. O que queremos é o fim da era Mubarak", explicou ao Estado o advogado do grupo Abd el-Menem Abel al-Mansour.Na realidade, o fato de a revolta ser liderada pela classe média não poderia ter sido mais adequado para os islamistas. Fontes diplomáticas confirmaram ao Estado a estratégia do movimento. Por anos, o Mubarak diz representar a estabilidade no Egito, alegando que, sem ele, os islamistas eram a única opção.Os sinais de radicalização já são vistos. Manifestantes acusam as forças se segurança de reprimir os protestos com armas americanas. E não perdem ocasião para demonstrar a simpatizantes do movimento islâmico que a aproximação entre Egito e EUA acabará com a saída de Mubarak.

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