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Basra é palco da guerra real e da guerra de propaganda

Por Agencia Estado
Atualização:

O combate pela melhor e mais favorável propaganda de guerra se intensifica na mesma proporção em que as lutas se acirram no deserto. Em Basra, de acordo com as fontes de informação da coalizão anglo-americana, estaria ocorrendo o primeiro, e tão aguardado por americanos e britânicos, levante popular contra Saddam Hussein e seu regime. A população - de maioria xiita que se opõe aos sunitas, grupo do qual faz parte o presidente iraquiano - estaria recebendo os aliados com festa e matando os soldados leais a Bagdá. Mas esta é a versão americana e britânica. Os iraquianos dizem o contrário. E nem mesmo o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, sabe ao certo no que acreditar nessa disputa de informação e contra-informação. Na Câmara dos Comuns, ele disse que ao menos algum levante estaria ocorrendo. "Sinceramente, os relatos são muito confusos, mas acreditamos que houve alguma forma limitada de motim", disse. Já os oficiais iraquianos negam que tenha ocorrido qualquer levante popular contra o governo de Saddam. Para confirmar sua tese de que a resistência aos invasores permanece firme, eles contaram com o auxílio da rede de TV Al-Jazira. Os cinegrafistas da emissora do Catar mostraram dois prisioneiros identificados como soldados britânicos, ainda que não estivessem uniformizados. Em outra tomada, surgem dois corpos, agora sim fardados, ensangüentados e estirados no chão de um subúrbio de Basra. A cidade é fundamental para criar uma linha de suprimentos que chegue até as tropas que cercam a capital iraquiana. Os militares da coalizão tinham certeza de que a briga interna no país seria favorável à invasão, principalmente ali. Mas os xiitas aparentemente os decepcionaram. Alguns líderes xiitas iraquianos que estão no Irã dizem que não há levante em favor dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha. "São distúrbios, não motins." As forças inglesas enfrentaram uma coluna de cem tanques iraquianos e pessoal armado nos arredores de Basra. Na segunda maior cidade do Iraque, a estimativa dos invasores aliados é de que quase mil soldados leais a Saddam tenham morrido. Os britânicos utilizaram também uma outra arma para conquistar definitivamente a cidade. Puseram alto-falantes ao redor dela e passaram a transmitir mensagens em árabe, incentivando os que se opõem à Saddam a se rebelar contra os soldados que se mantêm fiéis ao presidente. A maioria xiita, contra Saddam, acabou se mostrando também contrária à invasão. Saddam, anos atrás, reprimiu violentamente uma rebelião de xiitas logo após a primeira Guerra do Golfo, em 1991. Isso, imaginavam estrategistas do Pentágono, os colocaria a favor dos anglo-americanos. Mas havia também entre a população um sentimento nacionalista e de rancor com os americanos, que depois de incentivá-los à revolta em 1991 não lhes deram o apoio esperado. Os xiitas do Iraque não são necessariamente anti-sunitas. Na guerra contra o Irã, que se estendeu por oito anos, na década de 80, eles formaram ao lado dos soldados sunitas o Exército iraquiano contra o Irã, mesmo vigorando neste país o primeiro regime teocrático de inspiração xiita formado pela revolução islâmica comanda pelos aiatolás, líderes religiosos xiitas. Veja o especial :

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