BEIRUTE - Pelo segundo dia seguido, Beirute foi sacudida por violentos protestos contra o governo, a quem os milhares de manifestantes acusam de negligência no caso da explosão no porto da cidade, na terça-feira, que devastou metade da capital do Líbano, matou 154 pessoas e feriu mais de 6 mil. Dois ministros renunciaram neste domingo, 9, e houve uma nova tentativa de tomada do Parlamento, com confrontos entre os manifestantes e as forças de segurança do país.
Manal Abdel Samad, ministra da Informação, foi a primeira a deixar o cargo. Em seguida, Damianos Kattar, do Meio Ambiente e Desenvolvimento, também pediu demissão. Samad disse que a sua decisão era uma resposta “ao desejo público de mudança” e “em respeito aos mártires” do país. Ainda neste domingo, 9, mais um deputado renunciou ao cargo. Michael Mouawad seria o sétimo a abandonar a cadeira desde o dia da explosão.
O principal líder da Igreja Cristã Maronita, o patriarca Bechara Boutros al-Rai, defendeu, durante um sermão, que todo o gabinete deveria se demitir.
O primeiro-ministro, Hassan Diab, no entanto, resiste. Enquanto os atos cresciam em número de pessoas e violência, ele se encontrava com outros ministros para desencorajá-los a pedir demissão, informou a imprensa libanesa. No sábado, ele disse que iria antecipar as eleições parlamentares e que ficaria no governo por mais dois meses, tempo para que as forças políticas organizem o pleito.
Segundo uma pessoa que pediu anonimato e teve acesso às reuniões de Diab e seu gabinete, o primeiro-ministro disse que todos deveriam “assumir a responsabilidade” em meio à crise. “Não podemos deixar o país sem comando”, disse Diab, segundo um interlocutor.
“Não vamos desistir”, afirmou Pascale Asmar, um manifestante de 33 anos na Praça dos Mártires, em Beirute. “Nós o chamamos de vaso, porque ele é só para se exibir, ele não faz nada.”
O governo de Diab, formado em janeiro após manifestações em massa que ocorriam desde outubro e derrubaram Saad Hariri ainda no ano passado, tinha a promessa de reunir uma equipe de tecnocratas, mas acabou sendo loteado por facções familiares, incluindo membros da milícia xiita Hezbollah.
O Líbano não é dominado por um governante forte, mas tem vários líderes e partidos que representam os grupos sectários do país e compartilham o poder.
Os cargos são distribuídos por cotas entre 18 denominações religiosas, e o Parlamento é meio cristão e meio muçulmano. O primeiro-ministro deve ser sempre um muçulmano sunita, o presidente é um cristão maronita e o presidente do Parlamento, um xiita.
Nos protestos deste domingo, 9, segundo o jornal libanês Daily Star, um grande grupo de manifestantes tentou invadir o prédio do Parlamento. Os manifestantes conseguiram entrar nos escritórios dos ministérios da Habitação e do Transporte. No sábado, eles já haviam tomado o Ministério das Relações Exteriores.
A Cruz Vermelha Libanesa disse que pelo menos 65 pessoas foram transportadas para hospitais e 185 tratadas no local. O Exército disse que 105 soldados ficaram feridos.
Líderes internacionais se encontraram neste domingo, 9, em uma conferência virtual para discutir a ajuda ao país. O presidente francês, Emmanuel Macron, anfitrião da reunião, indicou que o auxílio deveria ser destinado diretamente para o povo libanês. Macron disse que eles deveriam “agir com rapidez e eficiência para que essa ajuda vá para onde é necessária”. “O futuro do Líbano está em jogo.”
Por ordem do presidente dos EUA, Donald Trump, John Barsa, diretor da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, irá a Beirute nesta semana.
O Fundo Monetário Internacional afirmou que pode “redobrar esforços” para ajudar o Líbano, mas as instituições do país precisam realizar reformas estruturais, uma demanda que é rejeitada pelo governo libanês. / WP, AFP e REUTERS