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Bélgica completa um ano sem governo permanente

Falta de acordo sobre reforma constitucional fez impasse político se arrastar

Atualização:

BRUXELAS - A Bélgica completou nesta segunda-feira, 13, um ano de impasse político que levou o país a ficar sem governo. Um governo provisório está no controle do país desde junho de 2010. Trata-se do período mais longo em que os belgas fica sem um governo real desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. O impasse ocorre por causa de disputas de poder entre representantes das comunidades de língua francesa e flamenga do País. Divergências entre os dois lados vêm causando problemas políticos para a Bélgica há décadas. Os dois partidos vencedores da última eleição geral não conseguiram superar suas divergências a respeito de uma reforma constitucional. Os nacionalistas da Nova Aliança Flamenga exigem mais autonomia para a região. Mas esta exigência é considerada inaceitável pelo Partido Socialista, que venceu na parte que fala francês. As pesquisas de opinião sugerem que dois terços do belgas ainda estão otimistas em relação à formação de um novo governo. Primeiro-ministro provisório.  O primeiro-ministro interino do país, Yves Leterme, renunciou em abril de 2010, mas ainda está indo ao trabalho. Em fevereiro, os belgas reivindicaram o recorde mundial de país que passou o maior tempo sem um governo. Uma página na internet fez a contagem regressiva para o dia em que o país bateu o recorde, deixando até o Iraque em segundo lugar - o país precisou de 289 dias para ter um governo, em 2009. O site agora traz a frase: "Sim, belgas, nós conseguimos!". Outras fontes sugerem que este recorde era, na verdade, do Camboja, que precisou de 353 dias para formar um governo depois das eleições de 2003. Se este for o caso, a Bélgica bateu este recorde no dia 1º de junho. "Tecnicamente, isto pode durar até a próxima eleição federal, em 2014", disse o cientista político David Sinardet. "Vamos dizer que teremos eleições em 2014 e teremos alguns problemas para formar uma coalizão, (então) este governo provisório pode continuar depois deste. Enquanto tiver uma maioria no Parlamento, o único obstáculo para (o governo provisório) seria o medo do absurdo." Enquanto isto, no dia-a-dia, o país continua funcionando bem. Sua economia está crescendo, as exportações estão em alta, o investimento estrangeiro continua, a presidência do país da União Europeia em 2010 foi considerada um sucesso e a Bélgica também contribuiu para a operação da Otan na Líbia. Isto ocorre em parte pelo fato de que os governantes provisórios e seus funcionários públicos são gerentes eficientes, mas também pelo fato de que muitos poderes já foram devolvidos para os governos regionais e comunidades linguísticas da Bélgica. Impaciência. Apesar da situação, poucos na Bélgica acreditam que a convocação de novas eleições possa resolver o impasse. As negociações sem resultados durante todo o ano que passou se concentraram nas exigências dos representantes da comunidade de língua flamenga, para obter mais poderes, um assunto que é frustrante e tedioso para os eleitores comuns. "O que você vê é impaciência, mas também uma falta geral de interesse. As pessoas estão cansadas de toda a história, principalmente no que diz respeito à parte institucional", disse o jornalista do jornal belga De Standaard Marc Reynebeau. "As pessoas estão falando sobre o mesmo assunto várias vezes, repetindo as mesmas frases. Isto cansa as pessoas. Fortalece a alienação dos cidadãos em relação à elite política", acrescentou. Para o jornalista, se algumas pessoas estão fazendo piada com este fato, é "para esconder o constrangimento". Reynebeau afirmou que uma nova eleição geral pode ser convocada ainda este ano, a partir de setembro, ou até em 2011, coincidindo com as eleições locais. Outra possibilidade, segundo o jornalista, é que o Parlamento comece a exercer mais iniciativa e o governo provisório assuma novos poderes. Com isso, este governo provisório pode durar outro ano. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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